8 curiosidades sobre o bairro da Liberdade em São Paulo

Você já parou pra pensar qual é a história do bairro da Liberdade, em São Paulo?

O bairro mais oriental de SP é a maior referência de cultura nipônica na cidade. Como não se encantar com as lanternas vermelhas, restaurantes tradicionais e lojinhas?

O movimentado bairro turístico é um verdadeiro pedacinho da terra do sol nascente pulsando dentro da maior capital do Brasil. Mas você imagina toda a história e as curiosidades que estão por trás desse intercâmbio cultural?

Nesse post, vamos te contar 8 curiosidades sobre o bairro da Liberdade SP, para você conhecer mais sobre a história desse bairro paulista.

Assim, da próxima vez que você visitar a feirinha da Liberdade, ou for até um dos restaurantes da Liberdade para apreciar a culinária, quem sabe você tenha uma ou duas histórias sobre o bairro da Liberdade para partilhar com os amigos!

Passeio guiado no bairro da Liberdade

Para conhecer mais a fundo a história do bairro da Liberdade em São Paulo, nós fizemos um tour com a agência Giro in Sampa, uma empresa especializada em tours diferentes e charmosos na cidade de São Paulo.

Foi um tour a pé, explorando cada cantinho desse bairro cheio de história pra contar.

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Bairro da Liberdade, São Paulo
Foto: Fui Ser Viajante

No tour guiado pela Liberdade, visitamos tanto as atrações mais conhecidas, quanto algumas que eu nem imagina que tinham tanta história pra contar!

Foi uma oportunidade incrível pois aprendi muito sobre o passado, os segredos e a história do bairro da Liberdade!

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8 curiosidades sobre o bairro da Liberdade

1) Um passado sombrio

Quem visita a feirinha da Liberdade nos finais da semana, no meio do movimento da Praça da Liberdade, nem imagina tudo que já aconteceu por ali no passado.

No século XVII, ainda era tudo bem deserto por ali. A região era considerada uma zona periférica da cidade de São Paulo, que só começou a ser povoada com o loteamento de antigas chácaras.

Praça da Liberdade, São Paulo
Foto: Fui Ser Viajante

Inicialmente, essa região ficou conhecida como bairro da Pólvora, por conta de uma antiga Casa da Pólvora que funcionava no local, construída em 1754.

E apesar de toda energia e movimento que vemos hoje, o passado do bairro da Liberdade teve alguns episódios bem tristes.

Sabia que existia uma forca onde hoje está a Praça da Liberdade? Por vários anos, pessoas negras e escravizados fugitivos foram executados ali. O antigo nome do largo faz referência a isso. Esse era o Largo da Forca.

Também existia um Pelourinho para punir negros escravizados.

As terríveis execuções no largo só pararam em 1870, quando a pena de morte por enforcamento foi extinta no Brasil.

Próximo ao antigo Largo da Forca, também surgiu o primeiro cemitério público de São Paulo (Cemitério dos Aflitos ou Cemitério dos Enforcados).

Destinava-se ao enterro de indigentes e homens mortos na forca e funcionou até 1858, quando foi inaugurado o Cemitério da Consolação.

Dizem que muitas ossadas ainda foram encontradas durante a construção das casas de comércio na Liberdade. Que história, einh?

2) De onde vem o nome do bairro da Liberdade?

Quando as execuções no Largo da Forca acabaram, decidiram alterar o nome do local.

Nascia assim a Praça da Liberdade. Existem algumas hipóteses para a escolha desse nome.

A mais popular conta sobre o enforcamento de um soldado, condenado por reclamar dos salários atrasados com a Coroa Portuguesa.

Na hora da execução, a corda do enforcamento rompeu três vezes e o soldado acabou sendo morto com pancadas.

O massacre sensibilizou a multidão, que gritava “Liberdade, Liberdade!”.

Feirinha da Praça da Liberdade, São Paulo

Em homenagem ao soldado, foi construída a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, que até hoje está ali na Praça da Liberdade (meio camuflada pelas barraquinhas da Feirinha da Liberdade).

Consegue ver a igreja ali no canto esquerdo da foto acima?

3) A ocupação japonesa da Liberdade

Como deu pra perceber pela história do bairro da Liberdade que já contamos até aqui, os japoneses não foram os primeiros povos a chegar nessa parte da cidade que hoje conhecemos como bairro da Liberdade.

Inicialmente, o passado da Liberdade tem a ver com a presença da comunidade negra. Os primeiros a se fixar por ali foram alguns ex-escravos e seus descendentes.

Anos depois, imigrantes italianos e portugueses também chegaram na região.

Essas pessoas foram construindo sobrados que tinham um “meio-porão”, que ficava meio nível abaixo da rua. O valor o aluguel cobrado nesses locais era bem baixo.

Na antiga chácara Tabatinguera, a proprietária Dona Anna Maria de Almeida Lorena, (neta do Conde de Sarzedas), mandou abrir uma rua, onde foram construídas várias dessas moradias de baixo custo.

Essa é a história da rua Conde de Sarzedas, uma das primeiras ruas do bairro da Liberdade.

Com a chegada dos imigrantes japoneses, no início do século XX, eles foram ocupando essas moradias de baixo custo, especialmente por conta do preço e da proximidade com o centro da cidade.

Bairro da Liberdade, São Paulo

Em pouco tempo, os imigrantes começaram a desenvolver atividades comerciais nessas casas.

E é por isso que, até hoje, a movimentada rua comercial Conde de Sarzedas é conhecida como a “rua dos japoneses”.

4) A história de amor do palacete da Rua Conde de Sarzedas

Essa rua ainda guarda uma história de amor, que envolve um dos prédios mais bonitos que visitamos no walking tour pela Liberdade!

Palacete Conde de Sarzedas foi construído a mando do sobrinho de Dona Anna, o deputado de São Paulo Luiz de Lorena Rodrigues Ferreira. O ano? Provavelmente entre 1891 e 1895.

O deputado tinha 60 anos quando se apaixonou por Marie Louise Belanger, uma francesa de 18 anos. O palacete foi construído como um presente para a jovem.

O casal viveu nesse casarão, carinhosamente apelidado de Castelinho do Amor do bairro da Liberdade SP.

Hoje no Palacete funciona o Museu e Centro Cultural do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Infelizmente a gente não conseguiu ver o Palacete por dentro, porque o museu não funciona aos finais de semana.

Mas é ou não uma das paisagens mais bonitas do passeio? Esse palacete clássico, lado a lado com o azul moderno do Edifício Nove de Julho!

Palacete Conde de Sarzedas
Foto: Fui Ser Viajante

4) Cinemas japoneses e o Viaduto Cidade de Osaka

Na década de 1950, um cinema foi inaugurado na rua Galvão Bueno no bairro da Liberdade SP.

O Cine Niterói era uma verdadeira atração! Havia um restaurante, um hotel e uma sala de projeção para mais de 1500 expectadores, especializada na exibição de filmes japoneses.

Ele foi o pontapé para a criação de outros cinemas no mesmo estilo no bairro da Liberdade: Nippon, o Joia e o Tokyo.

Nessa época, também foi criado o Bunkyo, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, onde hoje funciona o Museu Histórico da Imigração Japonesa.

Mas o tempo foi passando e a cidade de São Paulo começou a crescer. O histórico Cine Niterói foi demolido, junto com outras construções emblemáticas do bairro da Liberdade, para dar lugar a Ligação Leste-Oeste.

Com a avenida expressa, veio também o Viaduto Cidade de Osaka (em homenagem à cidade japonesa de mesmo nome), com suas grades vermelhas.

Pra mim, uma das paisagens mais bonitas da Liberdade fica exatamente ali no Viaduto Cidade de Osaka!

Anote a dica: se você procura dica de lugares para comer na Liberdade, indico muito o Restaurante Kazu, que serve almoço tradicional e as melhores sobremesas do bairro da Liberdade SP.

No blog Bagagem de Memórias, você também encontra várias outras dicas de onde comer no bairro da Liberdade.

5) Um Jardim Oriental na Liberdade e seu significado

Sabe o que é encontrar beleza na simplicidade? Bem ali no meio do burburinho de uma das ruas mais movimentadas da Liberdade, você encontra um paraíso de paz em um Jardim Oriental.

Ele fica entre o Viaduto Osaka e a Praça da Liberdade e é parada obrigatória para quem visita o bairro.

É impossível não se encantar com o pequeno lago com carpas que nadam tranquilas, rodeado de pés de bambu.

O que eu não sabia e aprendi no tour foi que todos jardins japoneses são cheios de significado e misticismo. Nada está ali por acaso… O cenário de tranquilidade e beleza vai muito além de uma questão estética.

A água do lado simboliza a vida e a pequena cascata representa seu ciclo, do nascimento até a morte. As carpas representam força, já que na natureza esses peixes nadam contra a correnteza.

O bambu representa a resistência e o caminho de pedras representa o caminho da evolução. Por fim, a lanterna de pedras, ou Toro, simboliza a iluminação dos caminhos e da mente para quem visita o jardim.

Todos esses elementos estão presentes no pequeno Jardim Oriental da Liberdade. Como não ficar encantada ao aprender o significado de cada um desses elementos?

6) Símbolos clássicos da Liberdade

Quando andar pela Liberdade, não esqueça de olhar para o chão! Desenhado nas calçadas está o mitsudomoe, um símbolo xintoísta que significa harmonia entre o homem, o céu e a terra! 

Outro símbolo clássico da Liberdade são as lanternas vermelhas. São lanternas orientais típicas, conhecidas como lanternas suzuranto.

Mas as lanternas que vemos hoje não são os modelos originais. Em 2008, as originais de vidro foram substituídas por exemplares de polietileno.

E logo na entrada do bairro, na rua Galvão Bueno, você encontra o Torri. É um portão tradicional japonês, também ligado ao xintoísmo, que tem relação com a entrada ou proximidade de um santuário.

Torri, Liberdade, São Paulo

7) As igrejas da Liberdade

Durante o walking tour, visitamos algumas igrejas que tem tudo a ver com a história do bairro da Liberdade.

A primeira delas é a pequena Igreja de São Gonçalo, que pode passar despercebida por quem anda pela Praça João Mendes, olhando apenas para a imensa catedral da Sé.

A construção dessa pequena igreja marcou o início da urbanização da região da Liberdade em São Paulo.

Igreja de São Gonçalo, Liberdade

Gonçalo Garcia foi um franciscano que morreu crucificado em Nagasaki, no Japão.

A igreja que vemos hoje não é a construção original. Depois de muitas reformas, nos idos de 1960, a Paróquia de São Gonçalo foi entregue aos japoneses.

Todos os domingos (até hoje) são rezadas missas em japonês para a comunidade nipônica do bairro da Liberdade.

Também visitamos a Capela do Menino Jesus de Praga e Santa Luzia, na rua Tabatinguera.

A capela foi construída dentro da antiga chácara de Dona Anna Maria de Almeida Lorena. A mesma Dona Anna que mandou abrir a Rua Sarzedas, lembra?

Histórias e lendas da rua Tabatinguera na Liberdade SP

Essa igreja, além de linda por dentro e por fora, está localizada nessa rua cheia de lendas em São Paulo.

Só pra dar um exemplo das mil histórias que essa rua viveu, nos fundos da propriedade de Dona Anna existia uma fonte, chamada Fonte de Santa Luzia.

Quem tinha problemas nos olhos procurava o lugar protegido por Santa Luzia, que segundo a tradição, tinha águas com propriedades milagrosas.

Conta-se que Domitila, mais conhecida como a Marquesa de Santos, foi esfaqueada pelo ex-marido bem ali perto dessa fonte, por contas de ciúmes e suspeitas de traição.

Ainda passamos pela Capela dos Aflitos, que tem acesso pela Rua dos Estudantes. Essa capela foi construída bem no centro do antigo Cemitério dos Aflitos.

Sobrevive ali até hoje, num dos poucos becos que resistem no centro de São Paulo.

8) Os famosos da Rua dos Estudantes

Essa rua que hoje passa quase despercebida no burburinho da Liberdade já viu caminhar muita gente importante. Dizem que foi num sobrado da Rua dos Estudantes que D. Pedro conheceu Domitila.

Mais tarde, com a criação da Faculdade de Direito, a rua foi povoada por estudantes em busca dos baixos preços nas repúblicas e pensões (e por isso o nome da rua).

Ali moraram Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães, personagens importantes da nossa literatura.

Hoje já não há tantos estudantes na rua, mas o nome preserva a história que esse pedaço de São Paulo já viveu.

Rua dos Estudantes, Liberdade
Foto: Fui Ser Viajante

Informações do tour na Liberdade com a Giro in Sampa

Um guia que entende sobre as atrações do percurso visitado faz toda diferença num passeio, especialmente se ele é cheio de segredos e histórias pouco divulgadas, como é o caso da história do bairro da Liberdade SP.

Com certeza aprendi muito durante o tour. O bairro da Liberdade é muito mais do que eu jamais imaginei!

Eu normalmente não sou muito fã de passeis guiados (por não gostar de acompanhar o ritmo quase sempre apressado dos guias).

Mas tenho que confessar que as meninas conseguiram dosar bem o tempo que a gente tinha disponível. Transmitiram muita informação enquanto caminhavam com a gente pelo bairro da Liberdade, e foi um tour muito gostoso de acompanhar.

Eu tive a mesma experiência boa no Walking tour em Santiago do Chile. Acho que essa modalidade de tour guiado em grupos pequenos, organizado por locais, é uma boa solução para combinar bom serviço e um precinho mais camarada.

Também há muitos walking tours acontecendo de graça nas cidades, então eu ando adotando cada vez mais essa modalidade para conhecer uma cidade com os olhos de um local! E tem valido a pena!

Fontes: Para confirmar dados históricos apresentados nesse post, fizemos pesquisa e referenciamos os sites: São Paulo Passado, Tribunal de Justiça de São Paulo, Cultura FM, Cultura Japonesa, Estadão e Nippon Brasil.

Resumo do tour na Liberdade com a Giro in Sampa:

– Foco na trajetória de africanos e asiáticos na cidade.
– Duração: 2 horas e meia.
– Roteiro: Catedral da Sé, Rua Tabatinguera, Vila Sarzedas, Igreja dos Aflitos, Largo da Liberdade, Rua Galvão Bueno, Rua São Joaquim.

Mais informações no Instagram ou  Facebook do Giro in Sampa.

Nota: Este post faz parte da série de publicações sobre o encontro I Japão.br. Todas as atividades desse encontro foram realizadas em parceria com empresas, inclusive esse tour guiado pela Liberdade com a Giro in Sampa.

No entanto, em respeito aos nossos leitores e à nossa política editorial, nossas opiniões refletem a nossa experiência real na atividade e não foram influenciadas de qualquer forma pela parceria.

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Lila Cassemiro
Klécia Cassemiro (Lila, para os amigos) é fotógrafa, videomaker e editora de conteúdo no blog Fui Ser Viajante. Também é sommelier de cervejas, formada pelo Instituto Science of Beer. Viajante geminiana e curiosa, é especialista em desenhar roteiros fora do óbvio e descobrir os segredos mais bem escondidos de cada destino.
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Comentários:

Uauuuu, quanta história do Liberdade, uma verdadeira aula, e quantas pessoas passam diariamente por ali e não sabem nem da metade do que você contou aqui. Achei uma delícia recordar dos momentos que vivemos lá e dessas histórias sensacionais.

Lila Cassemiro disse:

Pois é, Gisele! Eu mesma não tinha ideia de toda essa riqueza histórica, fiquei encantada!