Ilha Fiscal: como é a visita ao palco da última festa da monarquia no Brasil
Você já olhou para a Baía de Guanabara no Rio de Janeiro e se perguntou qual a história da Ilha Fiscal? Como é o castelinho por dentro?
Desde que me mudei para o Rio de Janeiro, eu olhava curiosa para aquele palacete verde no meio da Baía e achava incrível aquela ilha, tão pequena, com seu pequeno castelo e uma das melhores vistas do Rio.
Quando eu descobri que o Espaço Cultural da Marinha do Brasil organiza visitas guiadas para a Ilha Fiscal, de quinta a domingo, coloquei a câmera na mão e fui conhecer.
E que surpresa boa foi descobrir um dos lugares mais bonitos e cheios de história da Cidade Maravilhosa.
O Espaço Cultural da Marinha e os passeios na Baía de Guanabara
Chegamos um pouco antes de 11h, quando abrem as bilheterias do Espaço Cultural da Marinha, no Boulevard Olímpico.
Compramos os ingressos para o passeio até a Ilha Fiscal no primeiro grupo, agendado para 12:30h.
Aproveitamos para realizar o Passeio Marítimo pela Baía de Guanabara no mesmo dia, às 15h – um outro tour oferecido no Espaço Cultural da Marinha.
Cada passeio custa R$30,00 (a meia-entrada custa R$15,00). Na compra de qualquer um dos passeios (Ilha Fiscal ou Passeio Marítimo), o visitante ganha direito a visitar as demais atrações do Espaço Cultural da Marinha.
É possível conhecer:
- o Navio-museu Bauru (embarcação que participou da Segunda Guerra Mundial),
- o Submarino-museu Riachuelo,
- o Helicóptero-museu Sea King,
- o Carro de Combate Cascavel e
- a Nau dos Descobrimentos (uma reconstituição das embarcações usadas pelos portugueses na época das navegações).
O passeio guiado na Ilha Fiscal
Aproveitamos o tempo até a saída para a Ilha Fiscal para conhecer o submarino e o Navio Bauru, no Espaço Cultural. Com o ingresso, é possível voltar depois do tour para visitar as outras atrações.
Antes do passeio, é bom comer alguma coisa na pequena lanchonete do Espaço.
Na Ilha Fiscal também há uma lanchonete, mas só passamos por lá no final do passeio.
Aproximadamente às 12:10h, eles começaram a chamar o grupo para o passeio, no pátio principal (em frente ao helicóptero).
Exatamente às 12:30h, estávamos saindo do pier, um grupo de cerca de 50 pessoas, embarcado em uma escuna bem bonita, chamado Baía de Guanabara. E
m mais ou menos 20 minutos e lindas paisagens na Baía de Guanabara, estávamos desembarcando na Ilha Fiscal.
Fomos divididos em duas turmas, cada grupo com uma guia. Rosa Maria era bastante falante e bem divertida.
Mas o melhor é que ela sabia muitas histórias secretas da Ilha Fiscal!
E foi contando tudo pra gente!
Muita gente conhece a Ilha Fiscal por conta do seu evento mais famoso: o último baile do Império, oferecido por D. Pedro II poucos dias antes da Proclamação da República.
O que pouca gente sabe – eu não sabia, inclusive – é que de palácio de festas a Ilha Fiscal não tinha absolutamente nada!
O Palacete Alfandegário da Ilha dos Ratos (aparentemente roedores não faltavam por lá!) foi construído a mando de D. Pedro II para ser um posto aduaneiro, onde se fiscalizariam as cargas que chegavam na capital do Brasil.
Mas por que um prédio tão bonito? Dizem que Dom Pedro II queria causar boa impressão a quem chegava no Rio.
A vista da ilha era uma das favoritas do Imperador, que chegou a dizer que “A ilha é um delicado estojo, digno de uma brilhante joia”.
Há quem diga que tomar água de coco na varanda do palácio era um dos passatempos favoritos do monarca.
Não dá pra culpá-lo, quem não se apaixona por essa vista?
E como o posto alfandegário virou salão de baile imperial?
Quando decidiu promover o baile para estreitar relações políticas com o Chile, a família imperial queria mesmo um festão.
O homenageado seria o chileno Almirante Cochrane, e foram emitidos mais de dois mil convites individuais. Para ser um sucesso, só faltava mesmo uma locação especial para o baile.
E que lugar mais pitoresco que o Palacete Alfandegário, com a melhor vista do Rio?
Mas como até então, luxo e glamour não eram o foco da decoração, foi preciso alugar mobiliário, cortinas, lustres, tudo!
Os pequenos escritórios foram convertidos em salão de danças em jogos, e todas as janelas foram abertas para que a música, tocada por bandas no pátio externo, pudesse ser ouvida dentro dos pequenos salões.
Uma mesa de jantar enorme foi montada também no pátio externo, e por dias só se falava da fartura em comida e bebida e da generosidade de D. Pedro.
A festa foi mesmo memorável, mas com o fim da farra, todo o mobiliário foi devolvido e a Ilha Fiscal voltou a ser um simples posto de trabalho.
O curioso é que, seis dias depois, a República era proclamada e a família real mandada em exílio. O Baile da Ilha Fiscal foi mesmo a última grande festa do Império.
A Ilha Fiscal passou pela responsabilidade de diversos órgãos, mas nunca mais havia visto tempos gloriosos como o Baile Imperial.
Até que em 1998, quando já pertencia à Marinha, iniciou-se um projeto de valorização da sua memória. O prédio foi tombado e reformado, para reproduzir a Ilha Fiscal de 1889, na noite do Baile Imperial.
O que visitamos na Ilha Fiscal
Ala Cerimonial
A visita começa numa sala no primeiro piso do Palácio, a Ala do Cerimonial.
Formada por uma sala de estar e uma sala de jantar, ambas decoradas no estilo neogótico, com uma mistura de elementos do final do século XIX e dos anos 30.
Os vitrais nas portas e janela, importados da Inglaterra, são maravilhosos!
Na sala de estar, assistimos um pequeno vídeo onde uma baronesa conta detalhes da noite do baile.
Por lá, a réplica do quadro que retrata a noite da festa (o original está no Museu da República, no Catete).
Não podemos entrar na sala de jantar. Vemos por uma porta de vidro a reconstituição da mesa como estava montada na noite do baile.
É importante dizer que nada do que está ali foi parte do baile, que foi decorado com móveis alugados que foram devolvidos no fim da festa.
Toda a decoração é obra da Marinha, que encomendou ou garimpou peças em antiquários pela cidade.
Torreão e sacada
Em seguida, subimos por uma escada em espiral, com degraus precisamente esculpidos em pedra, para acessar um gabinete no piso superior, chamado de Torreão.
O piso em mosaico de madeira foi talhado com 14 tipos de madeiras nobres brasileiras, e por lá estão bonitos vitrais e trabalhos em pedra utilizando a técnica de cantaria.
Na noite do Baile, apenas convidados escolhidos a dedo puderam entrar no Torreão.
De mulher, somente a Princesa Isabel entrou nessa sala!
Os vitrais são maravilhosos, e o teto é pintado em azul para representar o céu do Brasil, com as estrelas representando as províncias na época do Império.
O gabinete dá acesso à sacada, aquela mesma de D. Pedro II. Dali, uma vista incrível do centro do Rio, do Pão de Açúcar, da pista do aeroporto Santos Dumont e da Ponte Rio-Niterói, na Baía de Guanabara.
Exposições permanentes
Quando descemos, visitamos o espaço térreo. A guia mostra em destaque o Brasão do Império, talhado em pedra no arco de entrada principal do Palacete.
Desenhado pelo francês Jean-Baptiste Debret, foi o maior brazão da família imperial brasileira, esculpido por um escravo e quase destruído quando nasceu a República.
Por sorte, a obra foi salva pelo engenheiro do palacete, Adolpho Del Vecchio.
Para terminar o passeio, fazemos um tour rápido pelas salas onde funcionavam as danças e os jogos – e que hoje recebem pequenas exposições sobre o trabalho da Marinha e da Petrobrás.
Voltamos ao terraço externo, agora na parte de trás do Palacete, onde ficaram as bandas e a mesa de jantar do Baile, e com mais uma bela vista da Baía de Guanabara.
Quando terminamos o tour, ficamos livres por um breve espaço de tempo. Aproveitamos para fazer fotos na área externa do Palácio, até que a escuna chegou para nos levar de volta ao continente.
Como visitar a Ilha Fiscal?
As visitas acontecem de quinta a domingo, em três horários: às 12:30h, 14h e 15:30h.
Os ingressos devem ser comprados no dia da visita, no Espaço Cultural da Marinha, localizado no Boulevard Olímpico (bem próximo à Pira Olímpica.
A bilheteria abre às 11h, e durante os finais de semana sempre forma uma pequena fila na portaria, antes da abertura dos portões do Espaço Cultural da Marinha.
O ingresso custa R$30,00, e inclui transporte de barco até a ilha (ou transporte terrestre, em dias de tempo ruim) e guia para conduzir o passeio na ilha. Há possibilidade de meia-entrada (R$15,00).
O tempo total da visita é de 2 horas, aproximadamente, já incluído o tempo de deslocamento.
Adoraria fazer esse passeio. Faz parte da nossa história brasileira. Vou indicar.
Gostei muito como você explicou todo passeio,conhecer a história do nosso Brasil é muito importante, com certeza aprendi e enriqueceu meus conhecimentos. Visitarei o Rio de Janeiro em setembro, e farei este passeio, obrigada.
Amei conhecer essa história,através do blog de vocês.
Parabéns, por descrever tão bem, essa história do nosso Brasil, que muitas vezes, fica no esquecimento. Vocês deixaram vivas essas memórias.
Que bom que gostou! <3 Fico muito feliz de contar histórias - ainda mais quando são tão interessantes! Beijos!
Klécia, querida, que joia deste nosso Brasil! Dizem que Pedro II tinha alma de artista e que amava o Brasil. Mas, quem não amaria, com uma vista desta à disposição né?!
Deve ter sido uma noite magnífica a do baile! Memorável! Uma ótima ideia manter nossa história e monumentos vivos. Eu não sabia da possibilidade de visita e agora que sei, não me sai da cabeça poder conhecer de perto tudo isso que você nos conta aqui 🙂 bjus
Aninha, imagina essa vista sem os prédios, com a baia limpinha, repleta de baleias, como dizem que eram comuns por aqui. Devia mesmo ser uma vista de impressionar!