9 escritoras africanas para você ler e ter na estante

Escritoras africanas contemporâneas | Conhecer a literatura de um país é uma oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura e da história de cada local, além de ser uma forma diferente de viajar.

No Brasil, quando pensamos nos livros estrangeiros com os quais já tivemos contato, os autores europeus e americanos sempre foram mais populares.

E quando pensamos em representatividade de gênero, ainda lutamos contra a menor visibilidade de mulheres no mercado editorial.

Um estudo da Universidade de Brasília, mostrou que, entre 1965 e 2014, nada menos que 70% dos livros publicados no Brasil foram escritos por homens.

Dentro desse universo, quando paramos pra analisar a representatividade de mulheres negras que conseguem ser publicadas por editoras no Brasil, os números assustam ainda mais.

Mas o cenário começa a mudar.

Já fazem alguns anos que algumas escritoras negras começaram a ganhar reconhecimento mundial – o que fez o mercado editorial e o público leitor começar a abrir as portas e janelas para ouvir suas histórias.

Posso arriscar dizer que a grande parte da voz dessa revolução vem da África.

Algumas escritoras africanas começaram a ser reconhecidas dentro de seus países e no mundo, em um processo crescente de valorização de autoras mulheres e também de mais negros no mercado editorial.

Pensando nisso, listamos aqui nove escritoras africanas contemporâneas para você conhecer, ler e ter na estante.

São mulheres nascidas em diferentes países, com diferentes trajetórias e perfis, mas que têm em comum a literatura como meio de levantar bandeiras sobre temas relevantes dentro de suas realidades.  

9 escritoras africanas para você conhecer

Essa lista é bastante homogênea. Algumas dessas autoras africanas já têm livros lançados em português e à venda no Brasil, por isso talvez você já tenha ouvido seus nomes aqui e ali.

Outras mulheres escritoras dessa lista tem obras já aclamadas mundialmente mas que ainda não foram traduzidas para o português.

E há ainda os livros que não foram distribuídos fora dos países de origem (ou de residência) das autoras.

Quem sabe a divulgação da obra dessas mulheres, e nosso crescente interesse por ler suas obras desperte o interesse das editoras, e as traduções cheguem logo pra gente! Vamos torcer!

Enquanto isso, confira a lista das 9 escritoras africanas que você precisa conhecer!

Chimamanda Ngozi Adichie

Nascida na Nigéria em 1977, se mudou na adolescência para os Estados Unidos, onde vive até hoje.

Seus livros, publicados originalmente em inglês, fizeram com que se tornasse uma das escritoras africanas mais conhecidas e mais lidas atualmente.

Seu primeiro livro foi uma coletânea de poemas, depois lançou o romance “Hibisco Roxo”, em 2003 – que foi um dos primeiros livros de autoras africanas que li para o projeto Legendi Mundi, nossa volta ao mundo literária com livros escritos por mulheres.

Depois ainda vieram outros livros, mas o sucesso internacional só veio em 2013, com o lançamento do romance “Americanah” – um misto de história de amor e crítica social, que fala sobre questões raciais, de gênero, imigração, período do governo militar na Nigéria e outros temas.

Atuante no movimento feminista, Chimamanda teve uma palestra realizada no TED Talks que foi posteriormente transformada em livro e se tornou um clássico sobre o assunto: “Sejamos todos feministas”.

Definitivamente, Chimamanda é uma das autoras africanas que eu mais amo e recomendo!

Mais livros da autora:
Para educar crianças feministas
No seu pescoço
O perigo de uma história única

Scholastique Mukasonga

Nascida em Ruanda em 1956, aos 18 anos foi mandada pela família para o Burundi junto com um irmão para se salvar do período de conflitos violentos no país.

Anos mais tarde, esses conflitos culminaram em um massacre, no qual Scholastique perdeu mais de 30 familiares, entre eles os pais e outros irmãos. Nessa época ela já estava na França, onde vive atualmente.

Esse episódio trágico da sua história pessoal e da história de Ruanda foi o tema de seu primeiro livro, “Inyenzi ou les cafards”, lançado em 2004.

Segundo ela, o livro é um relato autobiográfico que reflete sobre os acontecimentos da época, além de ser uma forma de ressuscitar a memória daquelas pessoas e acontecimentos.

O primeiro romance de Scholastique, “Nossa Senhora do Nilo”, resgata algumas memórias de seu país, misturadas a alguns elementos de ficção.

Este foi também o primeiro livro dela lançado no Brasil, em 2017, quando Scholastique Mukasonga participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Esse livro também já fez parte dos títulos lidos para o Legendi Mundi.

Mais livros da autora:
A mulher de pés descalços
Baratas

Djaimilia Pereira de Almeida

Uma das mais jovens escritoras africanas dessa nova geração de autoras, a angolana Djaimilia Pereira nasceu em 1982 e se mudou ainda na infância para Portugal, onde mora até hoje.

Ela já era uma autora de ensaios premiados quando, em 2015, publicou seu primeiro livro.

Esse cabelo – a tragicomédia de um cabelo crespo que cruza a história de Portugal e Angola” é uma mistura de memórias e ficção que fala de racismo a partir da história da relação de uma menina com seu cabelo crespo.

E adivinhem? O livro também já está na estante de lidos do Legendi Mundi.

Depois disso, Djaimilia Pereira já lançou outros livros, vários deles premiados na literatura portuguesa. E ela também já esteve no Brasil, participando da Flip 2017.

Mais livros da autora:
Luanda, Lisboa, Paraíso
– Ajudar a cair

Yaa Gyasi

Seu livro “O Caminho de Casa” foi considerado um dos melhores do ano de 2016 pelo jornal The New York Times.

E assim esta escritora, que nasceu em Gana em 1989 e mora nos Estados Unidos desde criança, se tornou uma das novas sensações da literatura mundial, sendo muitas vezes comparada a Chimamanda Ngozi Adichie.

O livro, já lançado no Brasil, conta a história de duas irmãs e seus diferentes destinos a partir do impacto da escravidão na vida de cada uma delas.

A ideia do tema surgiu depois de uma visita ao seu país de origem e de ver de perto o local onde, no passado, os escravizados eram mantidos.

A publicação já rendeu a Yaa diversos prêmios e fez com que ela fosse considerada uma das cinco melhores escritoras abaixo dos 35 anos pela National Book Foundation.

Nem precisamos repetir que Yaa Gyasi é uma das melhores escritoras africanas para você ler na atualidade, certo?

Mais livros da autora:
Transcendent Kingdom: a novel (disponível apenas em inglês)

Marguerite Abouet

Nascida na Costa do Marfim em 1971, foi morar na França no início da adolescência, quando os pais a enviaram junto com o irmão na esperança de dar a eles mais oportunidades de estudo.

Marguerite diz que sua missão é contar uma outra história da África, o que pode ser percebido já em seu primeiro livro, “Aya de Yopougon“.

A história fala de três jovens amigas moradoras do bairro de Yopougon, na capital do país, vivendo os dilemas típicos desta fase da vida, como relacionamentos, festas e dúvidas em relação ao futuro.

A personagem Aya protagoniza também outras publicações que vieram na sequência, todas em formato de quadrinhos com ilustrações feitas pelo marido dessa autora africana maravilhosa, Clément Oubrerie.

Mais livros da autora:
Aya de Yopougon – volume 2
Aya: Love in Yop City (disponível apenas em inglês)

Paulina Chiziane

Primeira mulher de Moçambique a publicar um romance, a escritora africana Paulina Chiziane escreve principalmente sobre temas femininos dentro do contexto cultural ainda muito machista de seu país.

Nascida em 1955, Paulina teve uma vida muito humilde e ainda jovem se tornou militante pelas causas moçambicanas, mas depois abandonou a política e passou a se dedicar mais à literatura.

Seu primeiro livro, “Balada de amor ao vento”, é de 1990.

Já o mais famoso deles, “Niketche – uma história de poligamia”, é de 2002 e ganhou o famoso prêmio Prêmio José Craveirinha, junto com o escritor Mia Couto, também moçambicano e um dos nomes mais importantes da literatura africana em todo o mundo.

Seu primeiro livro, “Balada de amor ao vento”, é de 1990. Já o mais famoso deles, “Niketche – uma história de poligamia”, é de 2002.

Esse livro ganhou o famoso prêmio Prêmio José Craveirinha, junto com o escritor Mia Couto, também moçambicano e um dos nomes mais importantes da literatura africana em todo o mundo.

Niketche – uma história de poligamia é mais um livro que também já foi lido no Legendi Mundi.

Mais livros da autora:
O alegre canto da perdiz
Vozes e Rostos Femininos de Mocambique
As andorinhas

Buchi Emecheta

Nascida em 1944 e falecida em 2017, Florence Onyebuchi Emecheta, mais conhecida como Buchi Emecheta, é uma escritora nigeriana e referência na literatura do país.

Ela cresceu com a tradição da oralidade nas histórias contadas em família sobre as gerações passadas.

E, desde a publicação de seu primeiro livro, “In the ditch” (“No fundo do poço”), em 1972, pautou suas obras nas questões femininas e na quebra do estereótipo das mulheres africanas.

Suas obras tratam de pontos importantes relacionados ao feminismo, como a violência, opressão, educação,  empoderamento, entre outros.

O primeiro livro dela lançado no Brasil, em 2017, foi “As alegrias da maternidade”, de 1979. Assim como os outros, é uma publicação que mistura suas memórias com um pouco de ficção.

“As alegrias da maternidade” foi escrito depois que ela já vivia na Inglaterra e sua filha resolveu morar com o pai – ex-marido com quem Buchi sofreu uma relação abusiva antes de conseguir se tornar escritora.

Mais livros da autora:
Cidadã de segunda classe
The bride price – a novel (disponível apenas em inglês)
– The  slave girl (disponível apenas em inglês)

Fatema Mernissi

Socióloga nascida no Marrocos em 1940 e falecida em 2015, foi professora universitária e ficou conhecida com a publicação do livro “Sonhos Proibidos: Memórias de Um Harém de Fez”, de 1994.

Nessa obra, Fatema Mernissi fala sobre as mulheres com quem conviveu durante a vida, mas cujo contato com o mundo era muito limitado.

Outro tema muito presente em suas obras era a condição da mulher nas sociedades islâmicas. Em 2013 foi a única marroquina a figurar na lista das 100 mulheres mais influentes do mundo árabe.

Mais livros da autora:
Sonhos de transgressão
O Harém e o Ocidente

Michelle Nkamankeng

É a mais jovem escritora africana a fazer parte da lista dos 10 melhores autores infantis do mundo.

Nascida em 2008 em Johanesburgo, capital da África do Sul, ela publicou seu primeiro livro aos sete anos, financiado pelos pais. “Waiting for the Waves” (“Aguardando as Ondas“) fala sobre a primeira vez em que enfrentou o medo das ondas ao entrar no mar.

Com a publicação, ela ganhou espaço na mídia e se tornou conhecida.

E, embora leve uma vida normal como a de qualquer garota da sua idade, hoje Michelle é uma ativista pela educação de meninas e já tem outras obras lançadas, sempre com temas pautados pela identidade da cultura africana.

Mais livros da autora:
The little girl who believes in herself (disponível apenas em inglês)

Representatividade na literatura: conheça as escritoras que vem da África!

Estas são algumas escritoras africanas que nós achamos que valem a pena você conhecer!

A partir da leitura dos livros de cada uma delas é possível ter um contato maior com a realidade de seus países, especialmente nas questões femininas do passado e da atualidade, e viajar por novas histórias em universos que às vezes parecem ser tão distantes do nosso!

Aproveita e conta pra gente, você já leu alguma obra da literatura africana? Foi escrita por uma mulher ou um homem? Vamos trocar uma ideia nos comentários!


A disparidade na representatividade feminina na literatura foi o grande motivador do projeto Legendi Mundi, a volta ao mundo literária que estamos fazendo aqui no blog, somente com livros escritos por mulheres.

Ler é uma outra forma de viajar e ler livros escritos por mulheres é uma forma de dar voz e divulgar o trabalho e as histórias de tantas mulheres incríveis pelo mundo, que dificilmente chegariam em nossas estantes de outra forma.

Leia mais sobre o Legendi Mundi aqui.

Foto em destaque: Pixabay

Redação Fui Ser Viajante
Descomplicando a sua viagem e mostrando que dá pra viajar mais pagando menos.
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comentários:
Carla Luala disse:

Muito incrível, sou uma mulher Angola e nunca tinha lido um único livro sequer de uma mulher africana, não falo com orgulho, me foram apresentados inúmeras livros sobre quase tudo mas, nunca um livro escrito por mulher africa. Isso deixa-me triste comigo mesma, como não posso mudar o passado, posso pelo menos mudar o meu presente, e olhar mais para as mulheres que são de grande representatividade no nosso continente, gostaria que existem outras mulheres africanas em muitas outras áreas também, sendo ouvidas e mostrando sua representatividade. São pouquíssimas ainda. Meu maior desejo…

Lila Cassemiro disse:

Também desejamos o mesmo, Carla! Que cada vez mais mulheres, e mais mulheres africanas, ocupem espaços e sejam aplaudidas por suas conquistas!