Casa de Anne Frank em Amsterdam: para amantes do livro e de história

Eu tive um diário quando adolescente. A chave ficava embaixo da cama e ali eu escrevia segredos, pensamentos, letras de música e nomes de namorados, acreditando firmemente na máxima que “o papel tem mais paciência que as pessoas”, como um dia, muito antes de mim, escreveu Anne Frank.

A história dessa menina de família judia sempre me emocionou e envolveu. Li O Diário de Anne Frank pela primeira vez ainda nessa época que eu tinha um diário e uma enorme fascinação por história da Segunda Grande Guerra.

Foi inevitável criar um vínculo emocional com essa menina que precisou fugir de casa e se esconder com a família para sobreviver.

Por isso, quando começamos a planejar a viagem para Holanda, conhecer a Casa de Anne Frank em Amsterdam estava no topo da minha lista de desejos.

Quem foi Anne Frank?

Foi o edifício na Prinsengracht, 263, em Amsterdam, que abrigou o Anexo Secreto – protegido dos nazistas por uma estante de livros e em cima de uma escada íngreme.

Às margens de um canal, nos andares superiores e mais internos do prédio, oito judeus se esconderam da perseguição nazista, esperando ansiosamente que o fim da guerra lhes devolvesse a vida e a liberdade.

Enquanto vivia escondida, a jovem Anne Frank, com apenas 13 anos, escreveu contos, copiou trechos de livros e começou um diário para contar sobre o seu dia-a-dia no esconderijo.

Anne escrevia como para uma velha amiga, temperando as linhas com as angústias sobre a guerra, paixões adolescentes, reflexões sobre a vida e frases tão impactantes que transformaram seu diário em um dos mais importantes e emocionantes relatos da época da guerra.

O dia que o Anexo Secreto foi descoberto pelos nazistas acabou como sonho de liberdade de Anne e sua família, e trouxe a realidade dos campos de concentração.

O antigo esconderijo foi saqueado, como aconteceu com a maioria dos outros esconderijos de judeus por Amsterdam. Somente um dos oito habitantes da casa (o pai de Anne) sobreviveu ao fim da Segunda Guerra.

Miraculosamente, o diário de Anne também sobreviveu para se tornar conhecido no mundo todo. Sua casa, transformada em museu, é uma visita essencial para todos que se emocionam com a história, palavras e literatura de Anne Frank.

Anne Frank - fotografada em maio de 1942.
Foto: Anne Frank, fotografada em 1942. Fonte: Organização Anne Frank

Como visitar a casa de Anne Frank em Amsterdam?

A primeira, a mais importante, talvez a única dica obrigatória: Fique de olho no site de venda dos ingressos!

Talvez você tenha ouvido histórias sobre as filas quilométricas que se formavam na frente da Anne Frank Huis, na esperança de conseguir um ingresso para visitar a atração (que recebe mais de um milhão de visitantes por ano!).

Bem, isso acabou! Agora a compra dos ingressos é realizada somente pela internet (e custa € 10 por pessoa + € 0,50 de taxa de conveniência).

Os ingressos são disponibilizados com dois meses de antecedência, sempre no horário comercial holandês.

Ou seja, todos os dias, por volta das 4 da manhã (horário de Brasília), é liberado o lote de ingressos para um dia no calendário.

Apesar de serem mais de 80 ingressos por grupo e cerca de 50 horários por dia, vocês não vão acreditar em como esses ingressos acabam rápido!

Dei bobeira e só entrei no site dois dias depois da abertura do lote para o dia que eu queria visitar a casa de Anne Frank. E adivinhem? Os ingressos estavam esgotados!

Desesperei, chorei, fiquei triste e procurei outros sites, mas não tinha jeito. Tudo fazia parecer que eu ia a Amsterdam mas não iria visitar a casa de Anne Frank.

Depois disso, entrei todos os dias no site esperando que, por milagre, algum ingresso aparecesse para venda. Dei sorte e consegui, mas eu jamais daria essa bobeira novamente!

Então fique ligado, procure seu ingresso com a maior antecedência possível!

Casa de Anne Frank - Amsterdam
Foto: Fui Ser Viajante

Como comprar o ingresso para a Casa de Anne Frank

Você precisa realizar a compra antecipada no site oficial da casa de Anne Frank, com cartão de crédito.

Na hora da compra, você já escolhe o dia e horário marcado para a sua visita.

O ingresso chega via e-mail e você pode levar o bilhete impresso ou apresentar o ticket no smartphone.

A casa de Anne Frank abre todos os dias do ano, exceto no dia de Yom Kippur (19 de setembro). De 1 de abril a 1 de novembro, a casa abre das 9h até as 22h. Já de 1 de novembro até 1 de abril, a casa de Anne Frank funciona de 9h às 21h.

Em datas especiais, como a semana do Natal, Ano Novo e alguns feriados na Holanda, os horários podem ser alterados (confira o horário de funcionamento atualizado no site oficial da Casa de Anne Frank).

E se não houver mais ingressos disponíveis?

Infelizmente, os ingressos só são vendidos online. Algumas agências de turismo oferecem ingressos em pacotes de viagem, mas o preço acaba subindo muito.

Uma última chance se você perdeu as datas de venda dos ingressos de admissão geral é comprar um ingresso para uma sessão do Programa Introdutório, que custa um pouco mais (€ 15,50).

O que está incluído no Programa Introdutório? Uma ‘aula’ de 30 minutos sobre a vida de Anne Frank no contexto da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto. No final da palestra, a visita ao museu está incluída.

A idade mínima para participar do Programa Introdutório é 10 anos. Os ingressos são disponibilizados no site oficial da Casa de Anne Frank com duas semanas de antecedência.

Como é a visita à Casa de Anne Frank

Novos grupos entram para visitar a casa de Anne Frank a cada 15 minutos. Chegue na hora marcada no seu bilhete. Depois de entrar, você pode ficar na casa por quanto tempo desejar. 

No começo da visita, você recebe um áudio-guia (em inglês por padrão, mas você pode pedir para trocar o idioma). Em cada sala, esse áudio vai te contando a história de Anne Frank, da casa em Amsterdam, da família e período de guerra.

A visita segue um fluxo: você não pode voltar para os cômodos já visitados. Você vai sempre em frente, por isso fique o tempo que achar necessário em cada sala.

No final da visita, você encontra a tradicional lojinha do museu, com vários itens exclusivos da casa de Anne Frank.

Não é permitido tirar fotos dentro da casa de Anne Frank. A visita conta com um grau de dificuldade extra, porque você vai subir escadas bem íngremes e estreitas para chegar até o Anexo Secreto.

Honestamente, o acesso é dificultado para pessoas com mobilidade reduzida, mas a subida não é absurdamente difícil. Nada tão dramático quanto mostram as cenas de A Culpa é das Estrelas.

Casa de Anne Frank: como foi a nossa experiência

Na logística da visita, tudo funcionou perfeitamente bem. Compramos os tickets pela internet para o primeiro horário. Chegamos cerca de 15 minutos antes do horário marcado. Não havia fila, só outras pessoas esperando, como a gente.

Casa de Anne Frank - Amsterdam
Foto: Fui Ser Viajante

O frio estava cortante ali nas margens do canal, mesmo na primavera, então vá agasalhado. Bem na hora marcada, a casa se abriu aos visitantes.

Apresentamos os ingressos no celular, e lá dentro recebemos os áudio-guias para a visita. Mochilas grandes precisam ser guardadas, mas bolsas entram sem problemas.

Como eu esperava que fosse acontecer, eu me emocionei – muito – na casa de Anne Frank. Você pode pensar que isso tem muito a ver com minha relação com a história de Anne e seu diário que virou livro.

E sim, com certeza isso explica muito do porquê eu achei a visita à casa de Anne Frank uma das coisas mais bacanas para fazer em Amsterdam.

Mas tenho outra visão para apresentar: Rafa nunca leu o livro, conhecia apenas da história de Anne Frank (além de gostar bastante das aulas de história no colégio). Ele também achou a visita à casa de Anne Frank muito interessante (e comovente).

O áudio-guia ajuda muito a conduzir a experiência. Em cada cômodo, reproduções da voz de Anne nos transportam no tempo. É impossível subir as escadas internas do Anexo Secreto sem imaginar a garota indo e vindo pelos estreitos degraus, dia após dia, por dois anos.

A casa está praticamente vazia, graças aos furtos que aconteceram depois que o esconderijo dos judeus na rua Prinsengracht, 263 foi revelado. Mas ainda se vê pedaços da vida de Anne, aqui e ali.

Como quando entramos no quarto cheio de posters que Anne ganhou do pai e colou nas paredes para animar o ambiente – como faria qualquer adolescente, de qualquer religião, cor, raça ou nacionalidade.

Ao longo do percurso da casa, detalhes do antigo dia-a-dia são apresentados junto com frases do diário de Anne Frank. Isso nos ajuda a reconstruir a vida escondida no Anexo Secreto.

Algo tão impressionante e assustador que é difícil dimensionar o tamanho da dor e horror que aquelas paredes testemunharam. Fica apenas a certeza que coisas assim nunca mais devem se repetir na história.

É essa consciência que eu trago como o mais importante da visita. E é por isso que a casa de Anne Frank é um ‘must do’ para os amantes do livro e de história que visitam Amsterdam.

Saiba mais: Veja o Guia Oficial da visita à casa de Anne Frank, em português.

Lila Cassemiro
Klécia Cassemiro (Lila, para os amigos) é fotógrafa, videomaker e editora de conteúdo no blog Fui Ser Viajante. Também é sommelier de cervejas, formada pelo Instituto Science of Beer. Viajante geminiana e curiosa, é especialista em desenhar roteiros fora do óbvio e descobrir os segredos mais bem escondidos de cada destino.
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Comentários:
Rosa M.H.S. disse:

Gostei muito das observações. Planejand visitar.

Carlos disse:

Bom dia, acabei perdendo o prazo pra comprar os ingressos, você acha possível que apareçam ingressos no site oficial? Vou em um mês e já não encontro para os dias em que estarei lá. Sobre as agências de viagem? Como faço pra ver se alguma tem ingresso? mesmo que pagando mais caro…

Rafael Cassemiro disse:

Oi Carlos, verifiquei no site e tem vários dias com disponibilidade para a visita ao museu para os horários noturnos a partir de 14 de Junho.
Os ingressos para a casa são vendidos somente no próprio site. As agencias que verifiquei não incluem o ingresso da casa nos tours.
Obrigado pelo comentário e boa viagem!

Renata Sucena disse:

Eu adorei esse museu!! Fui com meu filho pequenininho e me lembro de subir as escadas com ele no colo…ótima lembrança ler seu post. Preciso voltar pra Amsterdam.

Klécia disse:

Memórias afetivas <3
Quero voltar em Amsterdam também!

Larissa Moraes disse:

Gostaria de saber se tem lugares para guardar mochilas maiores na própria casa e se tem algum custo adicional

Klécia disse:

Oi Larissa, o guarda volumes da casa é gratuito, mas só permite guardar casacos, mochilas e sombrinhas (itens menores). De acordo com o site, não há espaço para mochilas grandes ou malas. Você pode entrar na casa com itens que sejam menores que uma folha A4 em tamanho.
Tem um depósito de malas na estação de trem central de Amsterdam, se for o caso. Um abraço e boa viagem!

Edson Jr disse:

Lembro que visitei a Casa em minha primeira viagem para a Europa, estava cansado (era uma das ultimas cidades do mochilão), mas mesmo assim fiquei bastante impactado.

Klécia disse:

Acho que é difícil não se impressionar. Tá tudo muito vivo lá dentro, apesar dos anos

Marcia disse:

Nossa, não sabia que era tão difícil conseguir os ingressos. Li o livro e fiz questão de comprar uma edição nova para que minha filha o lesse, também. Não fui ao museu quando estivemos em Amsterdam, mas acredito que sejam duas experiências completamente diferentes.

Klécia disse:

É diferente, ao mesmo tempo em que estão conectadas, Márcia. A casa materializa algumas coisas do livro, ao mesmo tempo que te dá outra dimensão sobre a história – a que vai além do nosso imaginário. É uma experiência única! Espero que você consiga visita qualquer dia.

Carol Duque disse:

Que demais! Sou fascinada por essa história de Anne Frank. Ir até o museu é um dos meus grandes desejos de viagem. Adorei saber como a gente faz para garantir um ingresso, não vou querer peder de ir. Ainda não tenho planos de visitar, mas conhecer a Holanda está na lista dos sonhos. Adorei o post!

Klécia disse:

Tomara que seja em breve, Carol! A Holanda tem muito a oferecer!

Eu acho a história da Anne Frank incrível. Deve ser muuito legal conhecer esse lugar. Que bom que não pegaram fila.

Klécia disse:

É incrível sim! Foi ótimo sem fila, mas o sufoco dos ingressos já valeu pelo sofrimento da viagem rs

Pelo pouco que eu te conheço posso imaginar o seu desespero ao não conseguir comprar o ingresso, que bom que no fim deu tudo certo! Eu li faz um pouco mais de dois anos o livro e infelizmente quando estive em Amsterdam acabou não dando certo a visita, isso me chateou um pouco, posso imaginar a emoção que é estar lá dentro e ao mesmo tempo a tristeza de sentir o que aquela família passou.

Excelente post e como sempre, um bom motivo para voltar!

Klécia disse:

É muito impactante Maytê. Muda nossa perspectiva sobre muita coisa. Tomara que dê pra você encaixar qualquer dia!

Luis Felipe disse:

Oi! Fui à Casa de Ane Frank nos tempos de filas gigantes! Acordamos super cedo e quando chegamos lá ficamos passando frio por uma hora! Que bom que está mais organizado. Não li o livro antes de ir – fiz isso na volta- e mesmo assim fiquei tocado. Lugar incrível!

Klécia disse:

Acho que a gente fica tentando a ver a perspectiva do livro né? Eu também voltei querendo reler.

quando estivemos na casa, o dia era frio e de muita chuva e uma fila de dobrar esquina. resultado, deixamos para outro dia e esse outro dia foi se misturando a outros lugares e não retornamos. apenas consegui fazer uma foto da esquina, que creio nem aparece a casa. ainda assim, estar ali, diante da História é algo de comover e pensar. espero ainda voltar a Holanda. o meu abraço.

Ruthia disse:

Eu também tive um diário na adolescência. Aliás, ainda acredito na paciência do papel. Só que a vida de adulto é tão corrida, que sobra pouco tempo para esse luxo. Li o Diário da Anne Frank na adolescência também e foi extremamente impactante. Acho que a força deste livro é apresentar um momento da história tão trágico de uma perspectiva tão pessoal; para mim enquanto adolescente significou “não, não pode acontecer apenas aos outros. Eis aqui uma menina, pouco mais nova do que eu e que viveu tudo isto, apenas por ter uma religião diferente”.
O melhor da casa em Amesterdão é realmente a memória. Precisamos que essa memória continue viva e forte, para combater os imbecis que dizem que o Holocausto nunca aconteceu.
Abraço

Analuiza disse:

oi Klécia… deve ter sido muito aflitivo estar diante da possibilidade de não conseguir ingressos. Ainda bem que tudo deu certo, no final. Quando eu fui não tivemos problema. Compramos pela internet, mas pudemos escolher tranquilamente nossos horários. Ainda levamos uns dias debatendo se era melhor pela manhã ou a noite. Também ficamos esperando do lado de dentro, fora do frio. Acho que a Holanda recebia menos turistas então.

Outra diferença: quando visitamos não havia áudio guia ou qualquer outra informação disponível, só o vídeo inicial e a maquete. Para mim a casa fez todo sentido, pois havia lido o livro, mas quem não leu ficou perdido. Tenho certeza que este recurso leva a visita a outro nível.

Concordo com você que este é um dos lugares a serem visitados na capital holandesa e para mim não é possível imaginar o que foram aqueles anos para aquelas pessoas.

bjinhos