Visitando a Cervejaria St. Bernardus na Bélgica
Seguimos com nosso roteiro cervejeiro, descobrindo e visitando as melhores cervejas do mundo. Dessa vez, quem entrou no roteiro foi a Cervejaria St. Bernardus, na Bélgica. A fama da cerveja fala por si mesma, então se você também está planejando um roteiro cervejeiro na Bélgica, vale a pena considerar uma visita à Cervejaria St. Bernardus.
A história da St. Bernardus se mistura com a de dois mosteiros trapistas: a Mont des Cats (na França) e Sint-Sixtus, que produz a lendária Westvleteren (na Bélgica). Mas embora o passado tenha trazido a tradição trapista para a St. Bernardus, hoje a cerveja já não é mais produzida por monges, muito menos está sendo produzida dentro de um mosteiro.
E esse é o motivo pelo qual a St. Bernardus é uma cerveja trapista que não tem o selo de autenticidade. Hoje, a produção da St. Bernardus acontece em uma moderna fábrica. Quem agenda um tour tem acesso a parte histórica da produção, mas vai experimentar as cervejas no bar moderno recentemente inaugurado no rooftop da fábrica.
Sem medo de errar, um dos bares com área externa e vista mais bonita que já visitamos!
Quer saber mais dessa história? Vem ver como foi nossa visita à cervejaria St. Bernardus na Bélgica!
Uma trapista sem mosteiro: a história da St. Bernardus
A St. Bernardus está bem ali na fronteira entre França e Bélgica, na região de Flandres, também conhecida como a terra do lúpulo. Os mosteiros vizinhos de Mont des Cats e Sint-Sixtus fazem parte da história da cervejaria St. Bernardus. Um mosteiro doou o nome, o outro a receita de sucesso – e assim nasceu a St. Bernardus, uma das cervejas mais apreciadas no mundo.
Para explicar essa história, precisamos começar dizendo que a França passava por uma rígida política anti-clerical no começo do século passado. Em 1904, alguns monges do mosteiro de Catsberg, em Mont des Cats, fugiram para se abrigar na Bélgica, na vila vizinha de Watou.
Eles passaram a produzir queijos trapistas na fazenda “Refúgio de Notre Dame de St. Bernard”, batizada em homenagem ao santo padroeiro da capela do mosteiro francês. Mas com o fim da primeira guerra mundial, a situação acalmou na França e os monges resolveram voltar para Mont des Cats.
A antiga produção de queijo foi assumida por Evarist Deconinck, o que manteve a fazenda movimentada após a saída dos monges.
E como surgiu a cervejaria St. Bernardus?
Por aquelas coincidências loucas do destino, Evarist conhecia os monges de outra abadia próxima, o mosteiro Sint-Sixtus em Westvleteren. Quando a Segunda Guerra Mundial chegou, os monges do Sint-Sixtus decidiram procurar alguém para comercializar suas cervejas, já que a produção comercial atrapalhava as funções religiosas do mosteiro.
Evarist conseguiu uma licença de 30 anos para produzir a cerveja Westvleteren. A fábrica de queijos St.Bernard incorporou a produção comercial de cervejas do mosteiro Sint-Sixtus, que usava o dinheiro que ganhava com a parceria para renovar a abadia.
Nesse meio tempo, o mosteiro Sint-Sixtus continuou a produzir a lendária Westvleteren, mas somente para consumo próprio e venda em 3 bares locais (incluindo o In de Vedre, onde a Westvleteren é comercializada até hoje ao lado do mosteiro).
E assim começou a história cervejeira da St. Bernardus
O mestre cervejeiro da Westvleteren veio até St. Bernardus para ensinar as receitas e trazer a levedura usada nas cervejas da Sint-Sixtus. Todo o ‘know-how’ da cerveja foi passado para a St. Bernardus.
O rótulo das cervejas mudou muito com o tempo. A primeira garrafa produzida na St. Bernardus carregava o nome Westvleteren Trappist. Mudou para Sint-Sixtus e depois para Sint-Sixtus & St. Bernardus.
A licença de produção chegou a ser estendida por mais 30 anos. O sucesso era tanto que a produção de queijos foi interrompida para dar mais ênfase ao negócio cervejeiro.
Em 1992, a licença de produção acabou. O Mosteiro de Sint-Sixtus já tinha inaugurado uma nova cervejaria e retomou a produção exclusiva da Westvleteren.
Seria o fim da cerveja em St. Bernardus?
Claro que não! Foi nessa mesma época que a St. Bernardus lançou a sua cerveja tripel, o que deu um novo gás ao negócio. A marca incluiu algumas cervejas novas no catálogo, ao mesmo tempo em que manteve a receita e a tradição aprendida com a Westvleteren.
Nessa época, o rótulo passou a levar oficialmente o nome St. Bernardus. Uma trapista sem mosteiro, mas que ostentava um monge no rótulo para mostrar suas origens trapistas.
A St. Bernardus Abt. 12, por exemplo, é produzida até hoje com a receita original de 1946. Seria a equivalente histórica da Westvleteren 12, considerada a melhor cerveja do mundo. Tem gente que fala que é exatamente a mesma cerveja, com dois rótulos diferentes.
Será? Para descobrir, só mesmo visitando e provando as duas cervejas! Sorte a nossa que um fica ao lado do outro e dá pra combinar as duas paradas em uma viagem só!
Quer saber mais sobre outras trapistas que visitamos na Bélgica? Leia nossos posts sobre a lendária Westvleteren e a Cervejaria Chimay.
Como visitar a cervejaria St. Bernardus?
A fábrica da St. Bernardus fica na área rural da vila de Watou, no sul da Bélgica. Como está praticamente na fronteira com a França, dá pra planejar uma visita à cervejaria saindo de qualquer um dos países. A Cervejaria St. Bernardus fica a 270km de Paris e 140 km de Bruxelas.
A maior parte da produção de lúpulo utilizada pela St. Bernardus é produzida bem ao lado da cervejaria, o que deixa a paisagem ao redor do bar (e os campos do caminho) com um ar campestre e bucólico que é a coisa mais linda.
De carro, percorrer as estradas da França e Bélgica não tem nenhum segredo. Chegando perto da cervejaria, já começamos a ver as placas indicando a localização da nova fábrica.
E quando finalmente chegamos em frente, a surpresa tomou conta. Não imaginava que a St. Bernardus era tão grande, nem tão moderna!
O estacionamento é subterrâneo e muito amplo. Direto do estacionamento, um elevador conecta com os andares da cervejaria. No térreo, está a loja da marca, nos andares intermediários estão escritórios e administração. No terceiro e último andar, o 360 Rooftop Bar Bernard!
O bar foi inspirado nos antigos cafés belgas, mas tem uma pegada moderna e de design arrojado. Esse combo transformou o bar num dos maiores pontos turísticos da região.
Super amplo, com mesas internas e externas e uma varanda com espaço kids e vista para a plantação de lúpulo dos arredores.
O cardápio conta com a gama completa de cervejas da casa ‘on tap’: Extra 4, Pater 6, Prior 8, Abt 12, Tripel, Wit, Christmas Ale e Watou Tripel.
Também estavam disponíveis nas torneiras outras duas cervejarias: a alemã Weihenstephan (com 4 cervejas) e a belga Kazematten (com 4 cervejas também). Variedade não falta por ali.
Impossível não escolher um cantinho com vista e pedir uma das réguas de degustação disponíveis no bar. Eles tem 3 réguas disponíveis no cardápio, com 3 cervejas de 150 ml (cada régua vendida por €7).
– Classic: St. Bernardus Wit, St. Bernardus Tripel e St. Bernardus Abt. 12 – Minha escolha!
– 3 Breweries: St. Bernardus Extra 4, Kazematten Grotten Santé, Weihenstephan Hefeweiss – Escolha de Rafa!
– Variation: St. Bernardus Pater 6, St. Bernardus Tripel, Kazematten Saison Tremist.
Acabamos dividindo tudo e experimentamos 6 cervejas. E como não podia deixar de ser, pedi mais uma St. Bernardus Abt. 12 para fechar a experiência!
Compras na loja St. Bernardus
Antes de ir embora, passamos na loja da marca no térreo pra trazer algumas cervejas com a gente de volta pra casa.
Na loja oficial da St. Bernardus, eles vendem itens exclusivos da marca (como posters, avental, abridor de lata, copos e jaquetas. E claro, cervejas! A loja vende engradados de 24 unidades, pacotes com 4 e 6 unidades e kits degustação, com cervejas e/ou cervejas e taças.
O único problema é que não dá pra montar “nosso kit”, com as nossas cervejas favoritas. Eles não vendem garrafas individuais. Os packs são montados com 4 ou 6 cervejas iguais. Outra opção é o pack degustação, que combina alguns dos rótulos da casa.
Trouxemos pra casa um pacote de 4 Christmas Ale e um pacote degustação com 6 garrafas, sendo 1 de cada: Watou Tripel, St. Bernardus Wit, St. Bernardus Abt. 12, St. Bernardus Prior 8, St. Bernardus Tripel e St. Bernardus Pater.
Só não compramos a St. Bernardus Extra 4, que é mais fácil de encontrar aqui no Brasil. Você pode conferir toda a lista de cervejas vendidas na St. Bernardus aqui.
De acordo com a legislação, você pode trazer até 12 L de bebida alcóolica na bagagem em vôos internacionais.
E o tour na cervejaria?
Essa foi a única parte que não incluímos na nossa visita à St. Bernardus. Para agendar um tour, é preciso enviar um e-mail antecipadamente para visit@sintbernardus.be.
É necessário um grupo de 15 pessoas para fazer a reserva. No caso de grupos menores ou visitas individuais, você envia o e-mail e espera ser encaixado num outro grupo maior.
Como a gente não tinha certeza sobre a hora que ia chegar na cervejaria, achamos melhor não arriscar. Deixamos o tour de fora da nossa visita.
Leia também: Visitando a Cervejaria Cantillon e as cervejas lambic em Bruxelas
Informações básicas para quem quer fazer o passeio: O tour na St. Bernardus acontece diariamente, com grupos em inglês, francês e holandês. Visita à cervejaria mais degustação leva em torno de 90 minutos, ao preço de €12,50 por pessoa (o valor é pago antecipadamente para confirmar a reserva).
Cada participante do tour leva pra casa como lembrança um pacote com 4 cervejas St.Bernardus (Tripel, Pater 6, Prior 8 e Abt 12), além de um copo original da cervejaria.
Para mais informações sobre a visita, veja o material online disponibilizado pela St. Bernardus.
Como chegar na Cervejaria St. Bernardus?
De carro:
Com a flexibilidade do carro, você pode programar uma viagem para conhecer a cervejaria St. Bernardus e, de bônus, combinar com a visita à Mont des Cats na França e Westvleteren, que ficam na mesma região, a apenas alguns quilômetros de distância.
Para alugar um carro na Europa, nós sempre usamos a RentCars (o seguro básico está incluído no valor da reserva, o pagamento é em reais e pode ser parcelado em até 12 vezes)! Você pode fazer uma cotação com a RentCars aqui.
O limite de álcool no sangue para dirigir na Bélgica é 0,45%.
De transporte público:
Há trens para Poperinge saindo de Lille e Paris na França (com conexão), e de Bruxelas e Gent da Bélgica (direto).
Para chegar na Cervejaria St. Bernardus saindo de Poperinge, você pode alugar uma bicicleta (os campos ao redor da cervejaria são planos e tem uma vista linda para pedalar) ou reservar o Belbus, uma van de transporte. Faça a reserva com pelo menos duas horas de antecedência.
Onde se hospedar?
Para quem está planejando uma visita à St. Bernardus, Poperinge se destaca como uma excelente opção de cidade base para explorar a região das cervejarias.
A cidade do lúpulo na Bélgica fica muito próxima da St. Bernardus (e também da Westvleteren), assim ninguém precisa pegar a estrada depois de visitar as cervejarias. Nós nos hospedamos num Bed & Breakfast incrível, com excelentes acomodações e um café da manhã dos sonhos: D’Hommelbelle.
Veja outras opções de hotéis em Poperinge
Por outro lado, a própria cervejaria St. Bernardus tem uma hospedaria para acolher os viajantes. A B&B Browershuis fica no espaço da cervejaria (exatamente na parte onde antigamente existia a produção de queijos) e você pode reservar um quarto online.
Cervejaria St. Bernardus
Trappistenweg 23
8978 Watou, Bélgica
Fone:+32 57 38 80 21
Site:http://www.sintbernardus.be/
Horários de funcionamento (verificados em outubro de 2018):
– Loja: Segunda a sexta, das 8h às 18h. Sábado: 10h às 18h. Domingo: 11h às 18h.
– Bar Bernard: Segunda e terça: fechado. Quarta e quinta: 11h às 20h. Sexta e sábado: 11h às 23h. Domingo: 11h às 20h.
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Planejei visitar a St. Bernardus no dia 23/10. Pretendo me hospedar na D’HommelBelle e ir de lá na tarde do dia 23 para a St. Bernardus e na manhã do dia 24/10 no bar In de Vrede. De lá preciso ir para Bruges. Vc sabe dizer se esse roteiro é viável? Pensei em reservar para eu e minha esposa os traslados Hotel x Cervejaria via a Belbus. E da Poperinge, pensei em ir de trem para Bruges.
Oi Fernando, o roteiro é possível e bem tranquilo sim. o retorno para Bruges de trem é uma boa opção, lembrando que não tem trem direto, é necessário fazer uma baldeação e a viagem demora cerca de 2hs.
Nunca utilizamos o traslado da belbus, mas é a indicação da propria westvleteren para chegar na abadia e deve correr tudo bem.
Grande Abraço e boa viagem!