Gírias cariocas: 25 expressões muito usadas pelos cariocas na cidade
Não dá para negar que os moradores do Rio de Janeiro tem um jeito todo próprio de se expressar. Você já deve ter ouvido alguma das várias gírias cariocas e expressões que tomam conta do dia a dia da cidade!
Além de práticas, as gírias cariocas carregam toda a malandragem, bom humor e descontração que são a cara da Cidade Maravilhosa.
Se você quer se sentir em casa enquanto passeia na cidade, ou mesmo se está se mudando para morar no Rio, recomendo muito que leia esse post e aprenda o significado de algumas delas!
Separamos aqui as 25 gírias cariocas e expressões mais utilizadas atualmente pelos moradores da cidade, junto com o significado, dicas práticas e exemplos reais de como utilizar cada uma delas.
Vamos nessa?
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Gírias cariocas e expressões mais utilizadas pelos moradores do Rio
Coé
“Coé” é um clássico carioca que surgiu da contração de “qual é”, se tornando uma expressão curtinha e cheia de atitude.
Lembra da música do Marcelo D2? “Essa onda que tu tira, coé? Essa marra que tu tem, coé?”
Versátil, ela serve para começar uma frase, expressar surpresa ou até para dar aquela alfinetada leve (ou nem tão leve assim). É praticamente o coringa das gírias do Rio e muita usada em praticamente todas as regiões e níveis sociais!
Como usar na prática?
- Está chegando num lugar e quer cumprimentar? Solta um “Coé, galera! Beleza?” com aquele sorriso aberto. É quase um ‘oi / olá’ carioca.
- Não gostou de algo ou quer tirar satisfação? Vai direto com um “Coé, tá de sacanagem?!”.
- Precisa chamar atenção de um vendedor? ‘Coé, parceiro! Quanto tá o biscoito Globo com mate?’. Assim o preço pode sair até mais em conta.
- Combo: Acha que algo está errado, como uma injustiça ou abuso? Prolongue o início da frase para ênfase, use um tom empático e manda um “Coéééé! Mó vacilo isso!”
Variação: Qual foi?
Existe uma variação interessante para o ‘coé’, que tem função aparentemente parecida com o original ‘qual é’, mas que na prática pode ser bem diferente. Trata-se do ‘Qual foi?’.
Essa expressão pode ser usada para:
- Intimidar: “Qual foi, irmão?! Tá olhando o quê, maluco?! Mete o pé!” (confira os usos de ‘irmão’, ‘maluco’ e ‘mete o pé’ mais adiante)
- Sentimento de injustiça ou frustração: “Ah, qual foooi?! Tomar um gol agora?! Fala sério, na moral! Agora já era pra gente…” (Confira ‘fala sério’ e ‘na moral’ mais adiante também)
- Entender o que está acontecendo ao chegar em um lugar: “Eita, qual foi?! Quê que tá pegando* aqui?!” (*O que está acontecendo?)
Apesar de não causar o mesmo impacto, muitas vezes o ‘qual foi’ também pode ser substituído pelo ‘coé’ nesses casos.
Maneiro
Outro clássico atemporal que funciona bem em toda cidade, independente do círculo social. Algo maneiro é algo interessante, legal.
Em outras cidades, seria o equivalente a ‘massa’, ‘da hora’, ‘show de bola’, ‘afu’.
Como usar na prática?
- Alguém te mostra uma paisagem incrível no Pão de Açúcar? Responda com um “Caraca, que maneiro!” e pronto, você já soa como um local.
- Numa conversa mais descontraída: “Pô, esse restaurante novo é maneiro. Bora lá?”
- Você também pode intensificar com um superlativo. Por exemplo, fechou aquele passeio de barco pela Baía de Guanabara? “Nossa, maneiraço isso aqui hein?” ou, “Maneiríssimo ver a cidade daqui!”.
Parada
Se existe uma gíria carioca que se adapta a qualquer contexto, essa gíria é “parada”.
No Rio de Janeiro, essa expressão multifuncional pode ser usada para se referir a qualquer coisa – de objetos a situações – e ainda serve como uma forma descontraída de concordar com algo.
Como usar na prática?
- Para se referir a algo: “Essa parada aí tá estranha, hein!”
- Ou ainda, para demonstrar surpresa ou curiosidade: “Qual é a parada desse evento novo que abriu na Lapa?”
- Quer pedir para alguém pegar algo que está longe do seu alcance? “Aí, pega aquela parada ali pra mim, rapidão?” (Aqui funciona como o ‘trem’ para os mineiros; podendo ser trocado por ‘treco’ e até ‘bagulho’ nesse contexto)
Variação: Essa parada, ou “saparada“
‘Essa parada’, ou sua versão mais foneticamente fiel ‘saparada!’ é uma forma de confirmar ou concordar com algo.
Exemplos:
- Cara, não tem como! Meu time é o melhor do Rio, né não? Saparada mesmo! (Pode crer!, com certeza!)
Cara / Maluco / Mané
Essas três palavras são parte essencial do jeito de se expressar carioca, e têm significados que mudam dependendo do tom e do contexto.
Por isso, saber usá-las no momento certo é fundamental para entender corretamente e interagir como um verdadeiro carioca.
Cara:
Cara é uma expressão quase universal no Rio, um jeito informal e amigável de se referir a alguém, seja amigo ou desconhecido.
E é importante frisar que é uma palavra sem gênero, apesar de ser bem mais comumente usada para homens. Mas você pode usar sem medo com qualquer pessoa.
Serve tanto para chamar atenção quanto para expressar surpresa ou indignação.
- Amigável: “Pô, cara, vamo lá na praia hoje?”
- Surpreso: “Cara, tu viu o tamanho daquela onda?!”
- Irritado: “Cara, já falei pra não mexer nas minhas coisas!”
- Um homem sem especificar quem (único caso que tem gênero): “Aquele cara de camisa azul ali é meu amigo. Chama ele pra mim?”
Maluco:
Maluco é usado de forma descontraída, quase como sinônimo de “cara”, mas com uma vibe mais brincalhona. Também pode ser um elogio para quem fez algo impressionante ou ousado.
- Brincadeira: “Maluco, você tá viajando nessa ideia!”
- Impressionado: “Maluco, como você conseguiu fazer isso?!”
- Afetivo: “Valeu, maluco, tu salvou a noite!”
- Um homem, sem dizer o nome (igualzinho o último exemplo de ‘cara’): “Aquele maluco de camisa azul ali é meu amigo. Chama ele pra mim?”
Mané:
Já mané é um caso à parte. Apesar de poder ser usado de forma brincalhona entre amigos, muitas vezes é um termo pejorativo, para descrever alguém que fez algo bobo ou vacilou.
- Brincalhão: “Tá de brincadeira, mané, isso aí não vai dar certo!”
- Crítica: “Ih, aquele cara é mó mané, nem confia nele.”
- Vocativo: “Pô, mané, tô a fim de pegar uma praia hoje. Partiu?”
A dica é prestar atenção ao tom e ao contexto! “Cara” e “maluco” geralmente são amigáveis, mas cuidado com o “mané” – ele pode ser visto como ofensivo, dependendo de quem está ouvindo.
E claro, tudo com a leveza e o espírito descontraído que só o Rio de Janeiro sabe ter.
Dar mole
“Não dá mole” é aquele alerta básico carioca que significa “não vacila”, ou um pouco mais formalmente, “Preste atenção”.
Usada para chamar atenção ou avisar alguém que está sendo descuidado, desatento ou vulnerável em determinada situação, essa expressão é quase um mantra no Rio.
Afinal, a regra é clara: estar ligado em tudo ao seu redor faz parte do jogo.
Exemplo clássico:
- Vai pegar o celular no meio da rua deserta? “Não dá mole com esse celular, hein!”
- É de boa deixar a bolsa na cadeira do restaurante para ir ao banheiro? Alguém logo avisa: “Ih, tá dando mole aí!”
Também pode ser usado para indicar que você está vacilando, perdendo oportunidade ou dando brecha para algo que te prejudique aconteça.
Que tal mais uns exemplos?
- Coé, tá mó solzão hoje! Dá mole não, parte logo uma praia!
- Cara, teu time deu molinho ontem hein? Tomar um gol daqueles aos 45 do segundo tempo é sacanagem!
- Ganhou ingresso pro Maraca? Pô, cara, vai! Não dá mole porque uma chance dessa não aparece toda hora.
Variação: dar condição
Além dessas possibilidades distintas entre si, “dar mole” tem outra faceta bem diferente – e, vamos combinar, muito mais divertida.
No universo carioca, a expressão também é usada para descrever quando alguém está demonstrando interesse em outra pessoa, seja com olhares, sorrisos ou aquele charme sutil que entrega tudo.
Em uma variante da variação (!), dar mole também pode ser indicado através de ‘dar condição’.
Como assim?
- Você está numa roda de amigos e percebe que alguém não para de te olhar e sorrir? Seus amigos já soltam: “Olha lá, tá te dando mole!”
- Entre os amigos dos seus amigos cariocas, tem aquela pessoa que está ‘te dando molinho’, mas você não tem certeza e pergunta a seus amigos se entendeu certo. Eles respondem: “Na moral? Tá te dando mó condição e tu num se ligou ainda! Chega junto, pô! Dá mole não!” (Ok, aqui tem um combo. Mas dá pra entender, né?)
Valeu
Se tem uma expressão que é a cara do carioca, é o famoso “valeu”. Simples, direto e cheio de leveza, ele pode ser usado tanto para agradecer quanto para se despedir de forma descontraída.
Como usar?
- Alguém te deu uma dica de ouro? “Valeu pela ajuda, irmão!”
- Terminou um papo e vai seguir para outro lugar? “Beleza, então! Valeu, até mais!”
- Até em situações mais casuais, por exemplo, o motorista do táxi te deseja bom passeio, e você agradece: “Valeu, chefe!”
Variação:
Também pode ser usado como confirmação de que algo foi compreendido corretamente. Como por exemplo:
- Deixou algo na geladeira para comer mais tarde e quer avisar para que outros não comam? “Coé, deixei uma parada ali na geladeira pra comer depois. Mexe não, valeu?”
- Quer informar que vai demorar a chegar hoje? “Aí, precisa me esperar hoje não porque vou chegar tarde, valeu?”
Na moral
Na moral é uma das expressões mais versáteis do vocabulário carioca e pode ser usada em diversas situações. Dependendo do contexto, ela pode significar “de verdade”, “sério”, “sem brincadeira” ou até “com calma”.
Como usar na prática?
- Para pedir algo de maneira educada: “Pô, me ajuda aí, na moral.”
- Quer reforçar que está falando sério? “Na moral, você acredita que isso aconteceu comigo ontem?”
- Em um momento de irritação, mas mantendo a compostura: “Na moral, dá para fazer silêncio aí?” ou “Coé, faz silêncio aí, na moral!”
- Sabe quando alguém quer que você se comporte, que respeite as regras? Vão te dizer: “Pô, fica na moral aí! Se continuar assim vão botar a gente pra fora do bar.”
Dar moral
“Dar moral” é uma expressão cheia de significado e pode ser usada em dois contextos principais.
Primeiro, como forma de dar atenção ou valor a algo ou alguém. Segundo, como sinônimo de dar aquela força ou ajudar em alguma situação.
Como usar na prática?
- Quer reforçar que alguém merece atenção? “Ih, cara, ele só dá moral pra quem conhece bem.”
- Precisa de uma ajudinha? (um combo de exemplo) “Coé, na moral, tem como me dar uma moral com esse texto aqui?”
- Ou ainda, para destacar que algo é relevante: “Tem que dar moral pra esse restaurante, a comida de lá é incrível!”
- Seu amigo está ‘dando mole’ pra aquela pessoa que não está nem aí pra ele, ou que claramente o está usando/esnobando? “Pô, tu tá dando moral pra quem não tá nem aí pra tu? Fala sério, pô! Mete o pé!” (Mais detalhes sobre o combo adiante no texto; fica como desafio por enquanto.)
Trocar uma ideia
Carioca não conversa nem bate papo – carioca troca uma ideia!
Essa gíria é usada para indicar que você precisa ter uma conversa com alguém, seja para resolver algo, esclarecer uma situação ou até mesmo para um papo despretensioso.
Como usar na prática?
- Precisa resolver uma situação delicada? “Vou ali trocar uma ideia com ele pra esclarecer tudo.”
- Quer puxar um papo mais casual? “Chega aí, bora trocar uma ideia sobre essa viagem?” (Apesar do combo, ficou claro né? Só mais um pequeno desafio…)
- Até mesmo para discutir planos: “Vamo trocar uma ideia sobre o que fazer no fim de semana?”
Variação: ‘dar uma ideia
Às vezes, você pode trocar uma ideia com uma segunda intenção, quando quer flertar. Nesse caso, você pode ‘dar uma ideia’.
Há ainda outro sentido bem diferente em que a expressão ‘dar uma ideia’ pode ser usada, como quando você quer dar um conselho ou sugestão para alguém.
Por fim, ‘dar uma ideia’ é uma variante para ‘dar moral’ no sentido de dar atenção.
Complicou? Veja os exemplos:
- Você está vendo um cara bonitinho e comenta com sua amiga que vai chegar nele e tentar a sorte: “Coé, vou ali dar uma ideia naquele carinha. Acho que ele tá me dando mole…”
- Está vendo que sua amiga vai embarcar em uma furada, vai fazer besteira? Diga o seguinte: “Na moral, posso te dar uma ideia? Faz isso não. Vai dar ruim.”
- Percebeu que alguém está dando atenção demais a quem não deveria ou que não vale a pena? Diga: “Coé, para de dá ideia pra maluco! Dá moral pra quem te valoriza!”
Caô
No dicionário informal do carioca, “caô” é a palavra oficial para descrever uma mentira, lorota ou aquele papo furado que ninguém compra.
Se alguém no Rio está inventando história ou exagerando nos fatos, pode ter certeza de que vão acusar: “Tá metendo um caô!”. E aquele que adora um caô, é o famoso ‘caozeiro’.
E como usa na prática?
- Suspeitando de uma história mal contada? “Para de caô, eu sei que tu não foi pra Copacabana coisa nenhuma!”
- Alguém tentando se justificar com uma desculpa esfarrapada? “Ih, tá cheio de caô nessa explicação aí, hein!”
- Também pode demonstrar surpresa, sem necessariamente duvidar da veracidade: “Ah, vai dizer que você conseguiu ingresso pro Maraca? Caô!”
Variações: caozinho e migué
O caô é a variante carioca do ‘migué’, amplamente utilizado em outras regiões do Brasl (e que também é usado no Rio às vezes).
Ele também é frequentemente usado no diminutivo, como no exemplo a seguir:
- Estão claramente tentando te enganar com uma história absurda? “Ih, coé! Vamo parar com esse caozinho pra cima de mim que eu não nasci ontem não, valeu? Já tô ligado nesse teu migué aí!” (um baita combo, inclusive)
Há também uma variação comumente usada quando nota-se que há todo um esquema elaborado, uma ladainha das piores. Nesse caso, costuma-se usar o ‘caozada’:
- “E aquele maluco lá na praia contando que jogava futevôlei com o Romário? Mó caozada!”
Agora, um sentido um tanto quanto diferente a princípio, mas que no fundo carrega um sentido próximo, é quando você vai ‘dar uma ideia’ em alguém e conta aquela historinha, aquele xaveco, aquele ‘papinho torto’. Veja:
- “Tá vendo aquela mina ali perto do bar? Tá me dando molinho. Vou chegar nela e mandar um caô pra ver se cola.”
Há ainda outros sentidos bem diferentes para o ‘caô’.
Quando você quer dizer que está tudo certo, que não há problema:
- “Pode passar lá em casa quando quiser, pô! Tem caô não, qualquer dia que quiser, é só brotar!” (Na dúvida, consulte ‘brotar’ mais adiante)
No sentido oposto também, quando quiser indicar que algo vai dar errado, que vai ser um problema:
- “Na moral, se eu fosse você não fazia isso não. Tô sentindo que vai dar mó caô se você aparecer lá na casa dele sem avisar. Os pais dele são bem chatos com isso.”
Meteu essa?
Popularizada pelo YouTuber Casemiro Miguel, o Cazé, “Meteu essa?!” é aquela expressão que o carioca usa quando ouve algo tão absurdo, inesperado ou inacreditável que a única reação possível é questionar.
Ou seja, quando escuta aquele baita caô.
A frase vem cheia de surpresa, incredulidade ou até uma pitada de ironia, dependendo do tom.
Como usar na prática?
- Quando alguém solta uma história difícil de acreditar: “Você falou isso pro chefe na reunião? Meteu essa?!”
- Alguém fez algo totalmente inesperado? “Meteu essa de pedir desconto em pleno show lotado?!”
- Ou ainda, quando você se recusa a acreditar em algo: “Tu vai mesmo de chinelo pra festa? Ah, não mete essa!”
Já é
“Já é” é uma daquelas expressões rápidas e diretas que os cariocas adoram usar, e não pode faltar na lista das gírias mais populares da cidade.
Basicamente, ela serve para confirmar algo, dizer que está combinado ou, de forma mais descontraída, garantir que alguém pode contar com você.
Funciona como uma forma de selar um acordo, mostrar que você está dentro da ideia ou que a conversa chegou a um consenso.
No próprio RJ você pode encontrar variações e até combinações como sinônimos de “combinado”, “fechou”, e outra gíria carioquíssima, o “demorô!”.
Como usar na prática?
- Quando alguém propõe algo e você aceita: “João – Partiu praia? Pedro – Já é!”
- Para confirmar um encontro: “Já é! Sexta à noite a gente se vê então.”
- Quando está alinhado com um plano: “Te encontro lá fora em 15 minutos, já é?”
- Vai pegar algo emprestado? (Atenção para o combo nesse desafio) “Coé, vou pegar essa parada aqui emprestada, já é?”
- Te explicaram algo e você entendeu? Confirme com: “Ah, tá! Já é então, beleza!”
Variação: “Já é ou já era?”
Há uma pequena possibilidade de variação que já foi mais usada no passado, mas que ainda pode ser ouvida entre alguns grupos com idade +30: “Já é ou já era?”
É usada quando você quer saber se a outra pessoa topa algo, normalmente quando se refere a pegação (mas não apenas). Veja em uso:
- “Aí, minha amiga ali tá a fim de você. Já é ou já era?”
Tá ligado?
Há duas formas bem distintas de se usar o ‘tá ligado’.
A primeira, é aquela pergunta clássica que o carioca usa para saber se você está acompanhando a conversa, entendendo ou atento ao que está acontecendo.
É como um jeito informal de garantir que a comunicação está fluindo, como se fosse um ‘sacou / entendeu / entende?’.
- Ao explicar uma situação: “Então, o jogo tá marcado pras quatro, mas a galera vai chegar antes, tá ligado?”
- Para checar se estão na mesma vibe, com ideias alinhadas: “É disso que eu tô falando, tá ligado?”
A segunda forma funciona como uma pergunta para checar se a pessoa está acompanhando o raciocínio ou já havia entendido algo antes mesmo da necessidade de uma explicação de fato, como se já soubesse algo de antemão.
Como usar na prática?
- Para confirmar se alguém está acompanhando: “Tá ligado no que eu tô te falando?”
- Para chamar atenção de quem parece distraído: “Tá ligado que a gente combinou de sair às 8, né?”
- Em tom de alerta: “Tá ligado que essa rua é perigosa à noite, né?”
- Testando a percepção do outro: “Tá ligada naquele cara ali na mesa de trás que não tira o olho de você? Se tiver a fim também, meu amigo te apresenta.”
Vazar, Ralar, Sair Fora ou Meter o Pé
Essas expressões são praticamente sinônimos no vocabulário carioca e são usadas quando alguém decide ir embora ou sair de algum lugar.
Na prática, a escolha é mais uma questão de gosto pessoal, familiaridade. Todas podem ser usada com a mesma intenção.
É o jeito típico do carioca de dizer que está de saída, seja porque a festa acabou (ou está chata), o trabalho cansou ou simplesmente porque já deu a hora de ir.
Como usar na prática?
- Para avisar que está na hora: “Pô mané, já deu minha hora. Vou ralar.”
- Quando a situação no lugar não está legal: “Ih, não gostei daqui, melhor meter o pé.”
- Depois de um dia longo: “Cansado demais hoje, vou vazar cedo.”
- Ou só para dar tchau: “Partiu? Bora sair fora então!”
Sinistro
Entre as gírias cariocas, “sinistro” é uma das mais versáteis e interessantes, porque pode ter significados opostos dependendo do contexto.
O termo pode ser usado tanto para elogiar algo incrível quanto para destacar algo preocupante ou complicado. Tudo depende do tom e da situação – e, claro, do jeito carioca de se expressar!
Vale frisar que, assim como maneiro (já citado aqui) e outras que ainda vão aparecer mais adiante, é uma gíria mais antiga que possivelmente só a galera +30 costuma usar com mais frequência.
Mesmo assim, você pode ouvi-la em variados grupos sociais.
Como usar na prática?
- Sentido positivo: “A festa ontem foi sinistra! Me diverti horrores.”
- Sentido negativo: “Aquela estrada é sinistra, cheia de curvas perigosas.”
- Para algo impressionante: “Você viu aquele gol? Sinistro!”
- Para descrever algo assustador: “Cara, o barulho do vento na janela foi sinistro. Achei que tinha alguém lá fora!”
Irmão / Parceiro / Bróder / Mermão
Se você está pensando em usar “mano” no Rio de Janeiro, é bom saber que essa gíria até bem pouco tempo sequer era usada na cidade.
Somente há alguns anos, devido à influência de criadores de conteúdo é que o termo se difundiu mais pela cidade, especialmente entre aqueles que têm menos de 25 anos.
No vocabulário carioca, há outras expressões que desempenham o mesmo papel de chamar ou se referir a alguém de forma descontraída.
As substitutas cariocas mais comuns:
“Irmão”: É a favorita para se referir a amigos próximos ou até mesmo a desconhecidos de forma casual. Normalmente vem acompanhado de um mais combos.
- Exemplo: “Irmão, na moral, não fuma perto de mim não?” ou “Qual foi irmão? Vai ficar de caozinho pra cima de mim?”
“Mermão / Mermã”: A forma mais informal de contrair ‘meu irmão’, característica do carioca autêntico.
Esse termo tem uma pegada ainda mais descontraída e é usado para se referir a amigos de uma maneira bem natural e cheia de intimidade. A variação feminina “mermã” também é super popular entre as cariocas.
- Exemplo:“Mermão, fala tu! Que calor é esse, na moral?”
- Exemplo feminino: “Mermã, que bikini lindo! Tá mó gata!”
“Parceiro” ou “parça”: Um clássico para demonstrar camaradagem.
- Exemplo: “Valeu pela ajuda aí, parceiro!”
“Bróder”: Importada do inglês “brother”, mas já tão incorporada que parece até invenção carioca.
- Exemplo: “Tranquilo, bróder. Deixa comigo! Tamo junto!”
Muleque
No vocabulário carioca, “muleque” (ou “moleque”) vai muito além do seu sentido literal de “garoto” ou “menino”.
No Rio, essa palavra é amplamente usada como uma forma descontraída de chamar os amigos, sendo uma expressão cheia de camaradagem.
O ‘u’ e não ‘o’ na primeira sílaba é uma questão fonética, já que normalmente é assim que é pronunciado.
Diferente de um tom que costuma ser empregado em outras localidades, o termo não carrega necessariamente uma conotação de imaturidade ou infantilidade – pode ser usado entre adultos e até em contextos mais sérios, dependendo do tom.
E não apenas aquela ideia de ‘isso é coisa de moleque; um adulto maduro não faria isso’, por exemplo.
Além disso, “muleque” funciona muito bem como vocativo, ou seja, para chamar a atenção de alguém de forma casual, seja para iniciar uma conversa ou enfatizar algo.
Como usar na prática?
- Chamar um amigo com intimidade: “Pô, muleque, na moral, tu mandou muito bem naquele futebol ontem!”
- Reforçar algo impressionante ou inacreditável: “Caraca, muleque, tu acredita que ganhei na rifa?”
- Reforçando uma admiração ou surpresa: “Muleque, ontem foi sinistro! Você precisava ter visto!”
Bolado
No Rio, quando alguém está incomodado, preocupado ou irritado, a expressão que reina é “bolado”.
No geral, ela é usada para descrever alguém que está preocupado, irritado ou até mesmo chateado com alguma situação. Pode traduzir tanto uma frustração leve quanto um aborrecimento mais sério, dependendo do contexto.
Como usar na prática?
- Quando está irritado com algo: “Tô bolado com essa chuva que não para!”
- Quando está preocupado ou desconfiado: “Fiquei bolado que ele esqueceu o nosso encontro.” “Tô bolado com essas notícias sobre o trânsito hoje. Acho que vou me atrasar.” “Caraca, a conta do cartão pra esse mês tá me deixando bolado já!”
- Quando algo não saiu como o esperado: “Bolado que o time perdeu de novo… Vai acabar sendo rebaixado!” “Fiquei bolado que o restaurante já tava fechado.”
Papo reto
“Papo reto” é uma expressão carioca que combina perfeitamente com o espírito direto e sincero do Rio.
É como dizer “vou falar sério agora” ou “é isso mesmo, sem enrolação”. Além disso, também funciona para reforçar concordância em uma conversa, como se dissesse: “tô falando sério” ou “totalmente de acordo”.
Como usar na prática?
- Reforçando sinceridade ou seriedade: “Papo reto, você não pode perder essa oportunidade de trabalho.” “Vou te dar um papo reto: você merece coisa melhor!” “Papo reto, você precisa viajar mais. Faz bem pra alma.”
- Usando para dar um conselho: “Papo reto, você tem que visitar a Pedra do Arpoador antes de ir embora do Rio.” “Papo reto, não deixa esse problema pra resolver depois. Vai por mim!”
- No exemplo acima, você também pode usar ‘Na moral,…’.
- Concordando de forma enfática: “Essa praia é a melhor do Rio, né?” “Papo reto, é maravilhosa mesmo!” “Tô morrendo de sono, cara. “Papo reto, eu também tô cansado demais.”
- Nesses exemplos, você poderia trocar a expressão por ‘Pode crer,…’, outra gíria que é bem comum no Rio também.
Um ponto interessante sobre ‘papo reto’, é a forma como essa gíria costuma ser abreviada nas redes sociais e mensagens escritas de forma geral: ‘pprt’.
Portanto, quando você vir um ‘pprt’ em um comentário ou post na internet, saiba que significa ‘papo reto’, e não se trata de um arquivo de Power Point.
Papo torto
Diferente do que possa parecer, o ‘papo torto’ não é o exato contrário do ‘papo reto’. Pode até ser, mas não é sempre.
Parece complicado, mas nem tanto.
Normalmente, o papo torto é uma conversa em que claramente estão querendo te enrolar de alguma forma, uma conversa com segundas intenções.
Que podem até ser boas intenções, como quando alguém está a fim de você, quer te dar uma ideia e vem com aquele xaveco, aquela cantada.
Também é popular e amplamente chamado de ‘conversa fiada’. Há uma variação que é o ‘papinho’.
Em geral, dá pra dizer que uma pessoa que vive de papo torto, tentando enrolar os outros, é um caozeiro de primeira.
Hum… Posso ver se entendi?
- Viu sua amiga conversando com um carinha que você sabe que tá inventando historinha pra ficar com ela? Diga: “Esse maluco de papinho torto pra cima de você, não acredita em nada do que ele diz.”
- Tentaram te vender um coco na praia pelo triplo do valor? Mostre toda sua carioquice com: “Qual foi, irmão? De papo torto pra cima de mim?! Na moral, tô ligado que o peço é bem menos que isso, pô! Dá um desconto aqui pro teu parça!”
Brotar
“Brotar” é usada quando alguém vai aparecer em algum lugar, seja para um evento, uma reunião ou simplesmente para marcar presença.
Não é só chegar de qualquer jeito, é dar o toque descontraído de quem está sempre aberto para uma boa oportunidade de diversão ou amizade.
Gostei, como uso?
- Para convidar alguém para aparecer: “Vai rolar uma resenha na casa do João, brota lá mais tarde!”
- Combinando algo de forma descontraída: “Coé, lá pras nove e meia eu tô brotando lá no churrasco, valeu?”
Gelo
Basicamente, ‘gelo’ é a forma carinhosa pela qual o carioca se refere à cerveja.
Quando alguém te convidar para ‘tomar um gelo’, nada mais é do que um convite para uma boa e velha cervejinha gelada, ‘como o carioca gosta naqueles dias quentes e à beira do mar ou piscina.
Como usar na prática?
- “Bora tomar um gelo depois do trabalho?” (Que tal tomar uma cerveja depois do expediente?)
- “Na moral, 40 graus hoje! Tá pedindo um gelinho mais tarde, né não?”
- “Fala aí meu camarada! Desce um gelo aí pro teu parceiro aqui e outro pra dama! Trincando, valeu?” (Garçom, traz uma cerveja para mim e outra para minha acompanhante. Extremamente gelado, pode ser?)
Pela saco
“Pela saco” (ou simplesmente “péla”) é uma expressão carioca usada para se referir a alguém irritante ou chato, aquele tipo de pessoa que deixa todo mundo na pilha e nos nervos.
Sabe aquele amigo que fala sem parar, que não para de reclamar ou que está sempre em cima, sem noção? Então, esse é o famoso “pela saco”. Às vezes, essa pessoa também pode ser chamada de vacilão, dependendo do contexto.
Beleza, e como usar?
- “Esse maluco é mó pela saco, não deixa ninguém em paz!”
- “Não aguento mais esse teu amigo, só fala besteira. Muito péla!”
- “Só queria curtir a roda de samba na moral, mas tem um pela saco lá que toda hora quer vir de papo torto pra cima de mim. ”
Cria
“Cria” é uma gíria carioca mais recente que tem um significado bem ligado à identidade e ao pertencimento.
Se você é “cria” de um lugar, significa que você é original daquele local, com toda a bagagem cultural, o jeito de falar, se vestir e se comportar que vem desse lugar.
O termo é muito usado nas comunidades, e reforça a ideia de quem cresceu ali tem uma conexão forte com o ambiente e a cultura daquele lugar.
É bem verdade que essa gíria já é usada em outras partes do Brasil, especialmente nas periferias.
Nos últimos anos foi ganhando popularidade em diversos lugares, embora a galera das comunidades ainda seja a principal responsável por carregar esse termo.
Além disso, o termo também pode ser usado para se referir a um amigo ou a alguém que faz parte do seu círculo mais próximo.
Entendi! E como que usa na prática?
- “Coé, cria, bora meter o pé?” (E aí, amigo, vamos sair daqui?)
- “O moleque é cria, olha o jeito que ele fala e se veste, não tem como não saber que ele é do Rio.”
- “Mermão, sou cria da Baixada. Comigo não tem esse caô não, vem de papinho torto pra cima de mim não!” (Meu caro, sou nascido e criado na Baixada Fluminense. Não venha tentar me enrolar!)
Ainda
A gíria “ainda” é um fenômeno linguístico curioso do Rio de Janeiro. Até o momento onde esse texto é escrito, muita gente não sabe o que realmente significa.
Há muitos moradores nascidos e criados no Rio que sequer a ouviram no dia a dia.
O fato é que ela se espalhou, especialmente entre os jovens cariocas, e virou um jeitinho único de afirmar algo com muita certeza.
Quando alguém diz “ainda”, está basicamente querendo reforçar que algo é óbvio ou com certeza. É como se fosse um “claro!” ou “é isso aí!”, só que de uma maneira bem carioca e descolada.
Essa expressão é muito usada para responder a convites ou situações em que se quer deixar claro que a resposta é afirmativa, sem dúvidas.
E o melhor é que ela transmite uma energia de confiança e entusiasmo, como quem não tem nem hesitação ao falar.
Você vai notar que muitas vezes parece que o ‘ainda’ pode ser uma evolução do ‘já é’ e que também tem um pouco do ‘demorô’.
Exemplos de uso:
- Confirmando algo com total certeza: “- Vai rolar aquela resenha amanhã? – Ainda! Não perco de jeito nenhum!”
- Reafirmando uma ideia de forma descontraída: “- Vamos para a praia depois do trabalho? – Ainda! Já marquei tudo!”
Por que o carioca fala tantas gírias?
O carioca fala tantas gírias porque a informalidade, o bom humor e a criatividade estão no DNA da cidade.
O jeito descontraído de viver, típico do Rio de Janeiro, se reflete diretamente na forma como as pessoas se expressam.
As gírias são uma maneira de traduzir a leveza e a proximidade que fazem parte do cotidiano carioca, além de reforçarem a identidade cultural única dos moradores.
A origem de muitas dessas expressões está enraizada nas influências culturais e históricas da cidade.
A mistura entre as culturas africana, portuguesa e indígena, além da forte conexão com movimentos artísticos e musicais como o samba, o funk e a bossa nova, ajudou a moldar um vocabulário rico e diverso.
Palavras como “malandro” e “sinistro” trazem traços dessa miscigenação cultural.
Por outro lado, expressões como “brotar” e “papo reto” vêm do convívio nas comunidades e do impacto da música, especialmente do funk carioca, que vem crescendo desde os anos 1980 e 1990.
No dia a dia, as gírias são como códigos sociais que unem as pessoas.
Na praia, por exemplo, é comum ouvir um “partiu?” ou um “mermão” para chamar alguém para surfar ou jogar altinha. No futebol, o carioca não “erra”, ele “vacila”; e no boteco, a conversa é regada a muito “gelo”.
Até no samba, o vocabulário cria um ambiente onde todos se sentem em casa, com expressões como “na moral” para pedir respeito ou “muleque” para chamar um amigo.
Aquele verso da música do Thiaguinho, é facilmente escutado em qualquer esquina no RJ: ‘Caraca, muleque! Que dia! Que isso!’
E tem mais: nem vamos entrar no mérito de como alguns palavrões tem muito menor intensidade no Rio do que em outros lugares do país e poderiam entrar facilmente nessa lista, mas preferimos manter o texto ‘family friendly’.
Mas saiba que a interjeição mais palavruda equivalente a ‘Caraca!’ (que também é bastante usada nessa forma mesmo), é perfeitamente ouvida em diversos ambientes, especialmente públicos como a praia, uma roda de samba ou na pelada dos amigos.
Da mesma forma, a mesma palavra substitui comumente ‘pra caramba’ para dar o tom exato de intensidade de algo. E isso poderia render um texto inteiro, só focando nos palavrões-gírias cariocas.
Por fim, também é importante citar aquelas palavras ou expressões que muitos diriam ser gírias, mas que para o carioca é só o jeito certo de dizer.
É o caso do famoso ‘biscoito’ (com S bem chiado) ou o rolé (e não ‘rolê’, mesmo que muitos jovens já tenham aderido à versão mais fechada da sílaba final).
Todos em sintonia com o charmoso chiado, as vogais mais abertas, a troca do ‘você’ por ‘tu’ mantendo a conjugação, a falta de D em gerúndio e o R no lugar do S às vezes, tu tá ligado no que tô falano, né mermo?
É sempre bom lembrar também que gírias podem ser efêmeras, do tipo que surgem do nada, são muito usadas em diversos contextos, e da mesma forma que surgiram, somem do nada.
A ponto de que em um espaço de um ano, se você usa uma gíria, vão ficar te olhando com cara de ‘essa pessoa tava vivendo em uma caverna no último ano?!’
Por isso, esse texto aqui pode ter muitas das gírias já obsoletas quando você estiver lendo, outras ressignificadas.
Assim como muitas outras poderão ter surgido nesse tempo. Mas sempre tem os clássicos e aquelas que se tornam clássicos por resistir ao teste do tempo.
Que outras gírias cariocas você conhece?
Agora que você já conhece algumas das principais gírias, que tal praticar?
Conta pra gente nos comentários: qual a sua expressão carioca favorita? Tem alguma nova que você aprendeu por aqui, ou alguma que você conhece e ficou faltando? Conta pra gente nos comentários e bora trocar uma ideia!
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Esperamos que este guia tenha ajudado você a conhecer algumas das principais gírias cariocas.
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